A ingestão da substância, frequentemente usada para adulterar bebidas alcoólicas, é uma emergência médica grave com consequências irreversíveis ao organismo
O metanol (álcool metílico – CH₃OH) é um produto químico de uso estritamente industrial, presente em solventes, anticongelantes e combustíveis. Apesar de ter aparência, sabor e odor similares aos do etanol (álcool etílico), presente nas bebidas alcoólicas, o metanol é altamente tóxico para o corpo humano e jamais deve ser ingerido. A ingestão acidental ou, mais frequentemente, a contaminação por meio de bebidas alcoólicas falsificadas representa um risco gravíssimo à saúde pública.
O risco da toxicidade: a conversão em ácido fórmico
A grande periculosidade do metanol reside no seu processo de metabolização pelo organismo. Ao ser absorvido, o metanol é transformado em substâncias ainda mais agressivas, como o formaldeído e, principalmente, o ácido fórmico. É o ácido fórmico que ataca diretamente o sistema nervoso central, o fígado e os rins, causando a maioria das consequências devastadoras da intoxicação.
A dose letal mínima de metanol em adultos é baixa, variando entre 60 a 240 mililitros em pacientes não tratados, sendo que quantidades menores já são suficientes para provocar sequelas permanentes.
Sintomas e consequências da intoxicação
Os sintomas da intoxicação por metanol costumam surgir algumas horas após a ingestão, geralmente entre 6 e 24 horas. É comum que os sinais iniciais sejam confundidos com os de uma ressaca comum, o que atrasa a busca por socorro médico, agravando o prognóstico.
Sintomas iniciais (leves a moderados):
- Dor de cabeça intensa.
- Náuseas e vômitos.
- Dor abdominal.
- Tontura e descoordenação motora.
Consequências graves e permanentes:
Quando a intoxicação avança sem tratamento, o quadro se torna severo, com risco de sequelas irreversíveis e morte:
- Cegueira ou perda de visão permanente: O ácido fórmico causa lesão direta ao nervo óptico, sendo uma das consequências mais características e temidas da intoxicação por metanol.
- Danos cerebrais: Pode haver confusão mental, desorientação, convulsões e, em casos extremos, coma.
- Acidose metabólica: Acúmulo de ácido no sangue, que interfere no funcionamento de órgãos vitais.
- Falência múltipla de órgãos: Comprometimento grave dos rins e do fígado.
- Morte: A taxa de mortalidade é alta quando o tratamento não é imediato.
Diagnóstico e tratamento de emergência
A intoxicação por metanol é uma emergência médica. O tratamento deve ser instituído com urgência, visando impedir que o organismo continue a metabolizar o metanol em ácido fórmico.
O diagnóstico se baseia no histórico clínico do paciente e é confirmado por exames de sangue que medem os níveis de metanol e a presença de acidose. O tratamento envolve a administração de antídotos (como o fomepizol ou, em alguns protocolos, o próprio etanol venoso, que compete com o metanol pela enzima que o metaboliza), além de bicarbonato para corrigir a acidose e, em casos graves, hemodiálise para remover as toxinas do sangue.
Qualquer suspeita de ingestão de metanol, especialmente após o consumo de bebidas alcoólicas de procedência duvidosa, exige atendimento médico imediato para aumentar as chances de sobrevivência e evitar a cegueira.