Objeto criado no século 17 combina forças internas que o tornam quase inquebrável na “cabeça”, mas extremamente frágil na “cauda”
Vídeos que circulam em redes sociais, como o TikTok, mostram uma pequena peça de vidro em formato semelhante a um espermatozoide sendo pressionada por prensas hidráulicas ou martelos — e resistindo ao impacto. Apesar da aparente indestrutibilidade, basta tocar sua extremidade mais fina para que ela se fragmente instantaneamente. Trata-se da gota do Príncipe Rupert, um objeto estudado pela ciência desde o século 17.
Como a gota é formada
A gota nasce a partir do resfriamento rápido de vidro fundido em água fria. O choque térmico cria tensões internas desiguais:
- na superfície, o vidro entra em compressão, funcionando como um escudo que impede a formação de trincas;
- no interior, prevalece a tração, com forças que “tentam escapar” da casca externa.
Segundo Felipe Ribeiro, professor de engenharia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), “o resfriamento não é homogêneo: a cauda vai esfriar e solidificar antes. A base, que tem mais vidro, demorará mais. Isso cria tensões diferentes, de dentro para fora e de fora para dentro”.
Essa combinação de forças explica por que a “cabeça” da gota suporta impactos intensos, enquanto a “cauda” funciona como ponto frágil: ao ser rompida, a trinca se propaga em velocidade superior a 6.400 km/h, desfazendo toda a estrutura.
Descoberta e primeiros estudos
O objeto foi apresentado em 1661 pelo príncipe Rupert, da Alemanha, ao rei Carlos II da Inglaterra. Intrigado, o monarca pediu a cientistas que investigassem suas propriedades.
Mais de três séculos depois, em 1994, um estudo conduzido pelo professor Srinivasan Chandrasekar, da Purdue University (EUA), em parceria com o físico Munawar Chaudhri, de Cambridge, mostrou a velocidade da propagação das rachaduras na gota. Pesquisas posteriores identificaram que a compressão na parte mais resistente atinge cerca de 50 mil libras por polegada quadrada, valor superior à resistência de certos metais.
Aplicações práticas na tecnologia
Embora a gota de Rupert pareça apenas uma curiosidade científica, seu princípio inspirou a criação de materiais usados no cotidiano. O processo de compressão interna está presente em vidros temperados, aplicados em automóveis, janelas de segurança e telas de celulares, que precisam resistir a impactos e evitar quebras perigosas.

Como ‘gota de vidro’ derrota a prensa hidráulica e suporta marteladas, mas pode ‘explodir’ facilmente? — Foto: Reprodução/Redes sociais.
(Com G1)