Washington Post, El País e The Guardian analisam embates de visões políticas entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos em Nova York
Reações iniciais em Nova York
A abertura da Assembleia Geral da ONU, realizada na terça-feira (23), ganhou destaque na imprensa internacional pelas falas dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, primeiros chefes de Estado a discursar. O encontro entre os dois líderes, ainda que breve, nos bastidores do evento, reforçou a atenção global em torno da relação entre Brasil e Estados Unidos.
O jornal americano Washington Post descreveu o cenário como “um palco de encontros inusitados e, por vezes, constrangedores”. A publicação ressaltou que Trump subiu ao púlpito logo após Lula, lembrando que o governo americano impôs sanções ao Brasil após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro — aliado próximo de Trump.
Lula como contraponto a Trump
Segundo o Washington Post, Lula se apresentou como contraponto ao populismo de direita, celebrando a condenação de Bolsonaro por tentar reverter o resultado da eleição de 2022. O jornal destacou ainda que o presidente brasileiro responsabilizou o Ocidente pelo prolongamento da guerra em Gaza, ao afirmar que o conflito expôs o “mito do excepcionalismo ético do Ocidente”.
El País aponta tensões bilaterais
Na Europa, o jornal espanhol El País enfatizou que Lula é um dos poucos líderes a resistir às medidas unilaterais de Trump, chamando-o de “ex-líder sindical que não se curvou”. A reportagem também apontou a possibilidade de uma reunião mais longa entre os presidentes, o que ocorreria em um momento crítico da relação bilateral de mais de 200 anos.
O periódico relatou ainda o tom mais duro do discurso de Trump em relação ao Brasil, quando advertiu: “Vocês só se sairão bem quando cooperarem conosco; caso contrário, fracassarão, como outros fracassaram”. O jornal lembrou que o líder americano justificou as tarifas impostas ao Brasil como medidas de reciprocidade.
Além disso, o El País destacou as falas de Lula sobre a condenação de Bolsonaro — “a paz não pode ser alcançada com impunidade” — e sua crítica contundente ao conflito em Gaza: “Nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso”.
The Guardian e as críticas indiretas
Já o britânico The Guardian focou nas críticas de Lula às ameaças à democracia. A manchete do jornal destacou: “Presidente do Brasil diz em discurso na ONU que democracia pode prevalecer sobre ‘pretensos autocratas’”.
O veículo britânico interpretou o discurso como um recado indireto a Trump, ao lembrar que Lula descreveu forças antidemocráticas como aquelas que “veneram a violência, glorificam a ignorância, agem como milícias físicas e digitais e restringem a imprensa”.
O Guardian também relembrou as recentes sanções americanas contra o Brasil, mas observou que Trump “deixou a porta aberta para uma reconciliação” ao admitir a possibilidade de um encontro com Lula. O jornal ainda mencionou críticas do presidente brasileiro aos ataques dos EUA contra embarcações venezuelanas no Caribe, que resultaram em 17 mortes.
( Com BBC )