Mais de 80 mil pessoas foram às ruas no Rio e em São Paulo; artistas participaram dos atos que criticaram propostas em discussão no Legislativo
Mobilização nacional contra PEC da Blindagem
Em protestos realizados neste domingo (21), mais de 80 mil pessoas se reuniram nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro para manifestar oposição à PEC da Blindagem e ao projeto de anistia a condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Os atos, organizados por movimentos sociais, apoiadores do governo Lula e parte da população insatisfeita com decisões recentes do Congresso, também ocorreram nas demais 25 capitais do país.
Os principais alvos das críticas foram parlamentares do Centrão e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que articulam ambas as propostas. No Senado, líderes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) indicaram que a PEC deve ser rejeitada já nesta quarta-feira (24), diante da ampla resistência dos senadores.
Artistas dão tom político aos atos
Na Avenida Paulista, em São Paulo, o Monitor do Debate Político no Meio Digital estimou a presença de 42,3 mil pessoas. No Rio, o levantamento apontou 41,8 mil manifestantes em Copacabana. O número superou mobilizações recentes organizadas pela esquerda, que vinham reunindo cerca de 15 mil pessoas.
Artistas consagrados se apresentaram nos atos, dando um caráter cultural às manifestações. Em Copacabana, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Paulinho da Viola e Geraldo Azevedo se revezaram no palco, interpretando canções de protesto como Podres Poderes e Cálice. Em Brasília, o cantor Chico César marcou presença, enquanto em Salvador o ator Wagner Moura e a cantora Daniela Mercury dividiram o trio elétrico.
Wagner Moura ironizou a atuação do Congresso, afirmando que ela lhe causa “preguiça”, e destacou a “democracia brasileira como exemplo para o mundo”. No Rio, Djavan afirmou que “lutaremos sempre pela democracia”, e Caetano Veloso reforçou o coro de “sem anistia”.
Pressão sobre Câmara e Centrão
A forte adesão popular intensificou a pressão sobre deputados que apoiaram a PEC da Blindagem. Após repercussão negativa, parlamentares de partidos como PT, PSB e União Brasil divulgaram vídeos pedindo desculpas por seus votos favoráveis. A proposta foi aprovada na Câmara com 344 votos a favor e 133 contrários.
Na sequência, o plenário aprovou regime de urgência para a análise do Projeto de Lei da Anistia, com 311 votos. O movimento colocou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), no centro das críticas. Na Paraíba, manifestantes entoaram gritos de “fora, Motta”.
Segundo aliados de Bolsonaro, a articulação entre Centrão e bolsonaristas acabou entregando à esquerda e ao governo Lula o discurso de combate à impunidade. A preocupação na Câmara cresceu diante do impacto popular dos atos, comparáveis em tamanho às manifestações bolsonaristas mais recentes.
Senado prepara rejeição da PEC
No Senado, o relator Alessandro Vieira (MDB-SE) afirmou que recomendará a rejeição da PEC da Blindagem, classificando o texto como “um tapa na cara da sociedade”. Para ele, a proposta cria “um passe livre para o crime” ao ampliar barreiras contra processos criminais envolvendo parlamentares e dirigentes partidários.
O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), disse que pretende “enterrar” a PEC já na primeira sessão de análise. “Foi uma manifestação do povo brasileiro em várias capitais para repudiar a blindagem parlamentar. É uma proposta totalmente impopular”, declarou.
Impasse sobre projeto de anistia
Paralelamente, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do PL da Anistia, tenta construir um texto consensual entre governo e oposição. Ele já admitiu, no entanto, que não incluirá Jair Bolsonaro entre os beneficiados. “Quem pode ajudar Bolsonaro são os advogados dele, não eu”, afirmou.
As negociações seguem ao longo desta semana, com previsão de votação ainda na quarta-feira (24). No entanto, o impasse sobre os limites da anistia deve prolongar o embate político em torno do tema.
