Exercícios denominados “Campanha Caribe Soberano 200” mobilizam milhares de militares e dezenas de embarcações e aeronaves, em resposta à presença de destróieres norte-americanos na região.
Exercícios militares estratégicos
Até esta sexta-feira (19/9), a Venezuela mobiliza 12 navios de guerra, 22 aeronaves e 20 embarcações de menor porte da chamada “Milícia Especial Naval”, além de cerca de 2.500 militares, em exercícios bélicos na ilha de La Orchila, localizada no Caribe, ao norte do país. A operação, batizada pelo presidente Nicolás Maduro como Campanha Caribe Soberano 200, coincide com a movimentação de oito destróieres dos Estados Unidos na região.
Nos últimos dias, segundo informações do governo norte-americano, embarcações dos EUA teriam atacado pelo menos três lanchas rápidas supostamente envolvidas com o narcotráfico, resultando na morte de 11 pessoas a bordo.
Declarações oficiais venezuelanas
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, declarou que o país enfrenta uma conjuntura de ameaça externa, enfatizando a necessidade de ampliar a prontidão militar. “Temos que duplicar os esforços, elevar nossa prontidão operacional para um cenário de conflito armado no mar, e estamos fazendo isso”, afirmou.
Padrino López detalhou que os exercícios envolvem drones armados, drones de vigilância, drones submarinos e ações de guerra eletrônica, reforçando a capacidade de defesa do território.
A emissora Telesur divulgou imagens de navios de guerra e embarcações anfíbias concentradas em La Orchila, onde funciona uma base da Marinha venezuelana. De acordo com o jornal El Nacional, os exercícios cobrem uma área de 43 km², localizada a cerca de 179 km do estado de La Guaira. Próximo à região, os Estados Unidos interceptaram recentemente uma embarcação pesqueira venezuelana, retendo-a por oito horas. O armamento utilizado nos exercícios é de fabricação russa.
Acusações de “falsa bandeira”
Diosdado Cabello, número dois do chavismo e ministro das Relações Interiores, acusou a DEA, agência americana de repressão a drogas, de realizar uma operação de “falsa bandeira” para vincular a Venezuela ao narcotráfico. Cabello afirmou que as forças de segurança venezuelanas apreenderam uma lancha com 3.680 kg de cocaína e quatro tripulantes. Segundo ele, o responsável pelo transporte seria um agente da DEA, Levi Enrique López Batis.
“Vou dizer isso com conhecimento de causa: Levi Enrique López Batis é agente da DEA, um narcotraficante, e a operação seria uma tentativa de associar a Venezuela a atividades ilícitas”, declarou Cabello.
Ceticismo sobre ação militar norte-americana
O coronel do Exército venezuelano e analista de segurança Antonio Guevara avaliou que a presença dos destróieres americanos dificilmente resultará em um ataque direto à Venezuela, seja em águas territoriais ou no continente, comparável à invasão do Panamá em 1989.
“Com o tempo, o presidente Trump enfrentou dificuldades internas. Além disso, organismos multilaterais, como a ONU, apontaram graves violações de direitos humanos. As operações recentes não respeitaram protocolos marítimos de detecção e identificação”, observou Guevara.
Para o analista, o governo Maduro utiliza os exercícios para construir uma narrativa de vitória da Revolução Bolivariana sobre o imperialismo. “Se os Estados Unidos não realizarem uma ação operacional, a população venezuelana pode interpretar isso como uma derrota americana, fortalecendo o regime chavista e sua postura provocativa”, acrescentou.