Operação atinge nomes próximos a Jair Bolsonaro e apura desvio milionário em associações de aposentados e conexões com escândalos investigados pela CPI da Covid
Prisões e mandados em São Paulo
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (12) uma operação que resultou na prisão de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e do empresário Maurício Camisotti, ambos apontados como integrantes de um esquema de fraudes contra o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Camisotti, detido em São Paulo, é investigado como sócio oculto de entidades usadas para desviar recursos da Previdência. Além das prisões, agentes cumpriram mandados de busca e apreensão na residência e no escritório do advogado Nelson Willians, também na capital paulista.
Estrutura do esquema de fraudes
Segundo a PF, Camisotti teria utilizado laranjas para assumir o controle de associações como a Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), a União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unasbras) e o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap). Essas organizações, que surgiram ou se fortaleceram durante os governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), são investigadas por movimentar milhões em operações fraudulentas de empréstimos consignados.
Documentos obtidos por quebras de sigilo apontam que as entidades transferiram cerca de R$ 43 milhões a quatro empresas do grupo Total Health, comandado por Camisotti. Entre elas estão a Prevident, que recebeu R$ 16,3 milhões, a Rede Mais e a corretora Benfix, registrada em nome do próprio empresário. Para os investigadores, ele é descrito como “figura central” do esquema.
Relações políticas e contratos públicos
CEO do Grupo Total Health, Camisotti mantém uma relação antiga com o Partido Progressistas (PP). Reportagem da revista IstoÉ revelou, em 2019, que ele era investigado pela Polícia Federal por supostos pagamentos de propina a políticos como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Ricardo Barros (PP-PR), Paulo Maluf (PP-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI).
Mesmo sob suspeita, Nogueira assumiu a Casa Civil no governo Bolsonaro em 2021, quando já era considerado um dos principais articuladores do chamado “orçamento secreto”, ao lado de Arthur Lira (PL-AL). Indícios também apontam que Camisotti atuava em esquemas no Ministério da Saúde desde a gestão Temer, sob comando de Ricardo Barros.
Ligações com a Precisa Medicamentos
Um relatório do Coaf, encaminhado à CPI da Covid, indicou que Camisotti teria funcionado como financiador oculto da Precisa Medicamentos, empresa investigada pela intermediação da compra da vacina Covaxin e pela venda de testes ao governo do Distrito Federal.
O documento revelou que o empresário tentou realizar uma operação de câmbio de US$ 18 milhões para aquisição de testes em nome da Precisa, o que foi recusado pelo banco. Posteriormente, ele admitiu ter emprestado os recursos a pedido de Francisco Maximiano, dono da empresa, por meio de contrato registrado pelo advogado Nelson Willians. A dívida, segundo Camisotti, nunca foi quitada.
Contratos milionários com a Geap
Além das acusações de fraude no INSS e de envolvimento com a Precisa, Camisotti também foi alvo de investigações sobre contratos da Geap, plano de saúde dos servidores públicos federais. Conforme a revista Crusoé, durante os anos em que o empresário manteve contratos milionários com a entidade, a gestão do plano estava sob influência direta do Progressistas.
A PF chegou a apurar suspeitas de pagamento de propina a líderes do partido, entre eles Ricardo Barros, Ciro Nogueira e Aguinaldo Ribeiro, mas os inquéritos não avançaram. Barros também teria articulado a contratação do escritório de Nelson Willians pela Geap, que recebeu cerca de R$ 12 milhões em honorários.