Presidente brasileiro defende vocação pacífica da região, condena ofensiva em Gaza e apoia diálogo entre Trump e Putin sobre guerra na Ucrânia
Durante a cúpula virtual do Brics realizada nesta segunda-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à presença militar dos Estados Unidos no Caribe e alertou que a luta contra o terrorismo não pode ser confundida com os desafios de segurança pública enfrentados pelos países latino-americanos.
Presença militar no Caribe gera críticas
Na semana passada, Washington anunciou o envio de uma frota naval com sete embarcações, 4.500 fuzileiros e dez caças avançados F-35 para Porto Rico, com a justificativa de intensificar o combate ao narcotráfico na região. A operação marca uma mudança de estratégia: até então, os EUA atuavam de forma conjunta com forças nacionais, em caráter policial, e não com presença direta de militares.
“A América Latina e o Caribe fizeram a opção, desde 1968, por se tornarem livres de armas nucleares. Há quase 40 anos, somos uma Zona de Paz e Cooperação. A presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, afirmou Lula.
O envio das tropas ocorre em meio às tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela. O ditador Nicolás Maduro acusa Washington de tentar derrubá-lo para instalar um “governo marionete” em Caracas, visando acesso às maiores reservas de petróleo do planeta. O presidente Donald Trump nega qualquer intenção de mudança de regime, mas ampliou a recompensa pela captura de Maduro para US$ 50 milhões, alegando envolvimento do líder venezuelano em atividades de narcotráfico.
Posição sobre conflitos internacionais
No discurso, Lula também voltou a criticar as ações de Israel na Faixa de Gaza. Segundo ele, a decisão de assumir o controle do território e a ameaça de anexação da Cisjordânia exigem “a mais firme condenação”. O presidente classificou a ofensiva israelense como genocídio e pediu a suspensão imediata das ações militares contra os palestinos.
Sobre a guerra na Ucrânia, Lula avaliou como positivo o encontro entre Trump e Vladimir Putin no Alasca. Para o brasileiro, o diálogo entre os dois líderes representa um passo importante na busca por uma solução diplomática para o conflito.
O Brasil, acrescentou, decidiu se juntar à ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça e participará da Conferência de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina.
Condenação ao terrorismo
Lula também destacou a necessidade de separar a luta contra o terrorismo das demais crises internacionais. Ele condenou os ataques do Hamas, incluindo sequestros e assassinatos de civis, além de atentados na Caxemira.
“No vazio de tantas crises não solucionadas, o terrorismo continua a assombrar a humanidade”, disse o presidente.
Xi Jinping reforça defesa do multilateralismo
O líder chinês, Xi Jinping, alinhou-se ao discurso brasileiro ao defender maior representatividade para o Sul Global. Ele afirmou que a ordem internacional deve ser baseada no direito internacional e que o sistema da ONU precisa ser fortalecido.
“Devemos promover a democratização das relações internacionais e ampliar a voz do Sul Global”, afirmou Xi. O presidente chinês também destacou a Iniciativa de Governança Global proposta por Pequim, voltada a incentivar uma cooperação internacional mais justa e equilibrada.