Presidente russo relaciona tarifas impostas por Donald Trump a questões da política doméstica brasileira e à crise em torno do ex-presidente
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (3) que as tarifas de 50% aplicadas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras decorrem de fatores ligados à política interna do Brasil, incluindo a relação entre autoridades do atual governo e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A declaração foi dada durante entrevista coletiva em Pequim, na China, onde Putin cumpre agenda oficial. Segundo ele, a situação brasileira difere da Índia, que também foi alvo da sobretaxa norte-americana por importar petróleo russo. No caso do Brasil, disse o líder russo, as sanções “têm ligação com problemas na situação política doméstica”.
“O prazo [para acordos comerciais] foi definido para 8 de agosto, e sanções adicionais foram introduzidas contra o Brasil em 6 de agosto. O que a Ucrânia tem a ver com isso? Há problemas lá [no Brasil]. Há problemas na situação política doméstica, incluindo nas relações entre as autoridades atuais e o ex-presidente Bolsonaro”, declarou Putin, sem detalhar quais autoridades seriam essas.
Tarifa e isenções
As sobretaxas impostas pelo governo de Donald Trump passaram a valer em 6 de agosto. Apesar da medida, o Brasil conseguiu preservar cerca de 43% de suas exportações por meio de isenções concedidas a produtos como derivados de petróleo, ferro-gusa, suco de laranja e itens da aviação civil, entre eles os da Embraer.
Trump justificou a decisão afirmando que as sobretaxas se devem ao que classificou como “caça às bruxas” contra Bolsonaro e às decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes. Nesta semana, a Primeira Turma do Supremo iniciou o julgamento da denúncia sobre a trama golpista de 2022, que pode resultar na condenação de Bolsonaro e de generais por tentativa de golpe de Estado.
Negociações e Guerra da Ucrânia
Na entrevista, Putin disse ainda que desequilíbrios comerciais entre países devem ser solucionados por meio de negociações.
“É impossível falar com tantos parceiros nesse tom hoje. Parece-me que, no final, tudo voltará ao mesmo lugar e voltaremos a um diálogo econômico normal”, afirmou.
O líder russo também comentou a Guerra da Ucrânia, afirmando que existe possibilidade de encerrar o conflito pela via diplomática, “se o bom senso prevalecer”. Ele acrescentou, no entanto, que está preparado para buscar uma solução militar “caso seja a única saída”.
Putin declarou estar disposto a dialogar com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, desde que o encontro ocorra em Moscou, seja “bem preparado” e traga resultados concretos. A chancelaria da Ucrânia rejeitou de imediato a proposta, classificando como inaceitável a ideia de Moscou sediar a reunião.
Perspectivas
Ao final de sua passagem pela China, Putin afirmou enxergar “certa luz no fim do túnel”, citando os “esforços sinceros” dos Estados Unidos para tentar uma solução negociada para o maior conflito terrestre da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.



