Governo francês classifica como “inaceitáveis” declarações do diplomata Charles Kushner contra o presidente Emmanuel Macron
Carta do embaixador acusa Paris de “falhar” diante do crescimento do antissemitismo
O governo da França convocou nesta segunda-feira (25) o embaixador dos Estados Unidos em Paris, Charles Kushner, para prestar esclarecimentos após declarações consideradas ofensivas contra o presidente Emmanuel Macron.
Em uma carta enviada ao líder francês e divulgada no domingo, Kushner acusou o governo francês de adotar uma postura “insuficiente” diante do aumento de ataques antissemitas no país. O diplomata afirmou estar “profundamente preocupado com o crescimento dramático do antissemitismo na França” e acrescentou que Paris “tem falhado” em agir com firmeza diante da escalada da violência.
“Na França, não passa um dia sem que judeus sejam agredidos nas ruas, sinagogas e escolas sejam depredadas, e comércios judeus sejam vandalizados”, escreveu.
Kushner, pai de Jared Kushner — genro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump —, é empresário do setor imobiliário e filho de sobreviventes do Holocausto. A carta foi datada justamente em 25 de agosto, data que marca os 81 anos da libertação de Paris pelas forças aliadas, episódio que simbolizou o fim da deportação de judeus durante a ocupação nazista.
Repercussão internacional e críticas de Netanyahu
As críticas de Kushner ecoam declarações recentes do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Na semana passada, o premiê acusou Macron de “fomentar o antissemitismo” após o presidente francês defender o “reconhecimento internacional” do Estado da Palestina.
Netanyahu afirmou que “gestos de reconhecimento de um Estado palestino encorajam os extremistas”, argumento semelhante ao apresentado pelo embaixador americano em sua carta. Tanto o governo de Israel quanto Kushner consideram que a postura de Paris enfraquece a posição israelense no conflito com o Hamas.
Reação do governo francês e defesa da soberania
As declarações geraram forte reação do Ministério das Relações Exteriores da França. Em nota, o Quai d’Orsay destacou que as falas do embaixador norte-americano violam a Convenção de Viena de 1961, que regula as relações diplomáticas e proíbe a ingerência nos assuntos internos de outros Estados.
O Palácio do Eliseu adotou tom semelhante ao já usado em resposta a Netanyahu, afirmando que “este é um momento que exige seriedade e responsabilidade, não confusão e manipulação”.
Antissemitismo em alta desde a guerra em Gaza
Desde os ataques do grupo Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixaram quase 1,2 mil mortos, a França registra um aumento significativo nos casos de antissemitismo. As autoridades francesas reforçaram a segurança em sinagogas e escolas judaicas, mas representantes da comunidade judaica avaliam que as medidas ainda são insuficientes.