Relatório aponta transferências financeiras, mensagens e até documento de advogado estrangeiro como provas de tentativa de interferência judicial
A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), sob acusação de coação no curso do processo que apura a trama golpista de 8 de janeiro. segundo o relatório, os dois atuaram para tentar obstruir a ação penal, utilizando repasses de recursos, trocas de mensagens e até a participação de um advogado estrangeiro.
Transferências financeiras sob suspeita
Entre as evidências citadas, a PF destaca transferências realizadas por Jair Bolsonaro a Eduardo, que vive nos estados unidos desde fevereiro. ao todo, foram seis repasses entre janeiro e abril, somando r$ 111 mil, além de uma transferência de R$ 2 milhões feita em maio. para os investigadores, os valores fracionados tinham o objetivo de escapar dos mecanismos de controle financeiro.
A polícia afirma que o dinheiro serviu para “apoiar financeiramente as ações do parlamentar licenciado no exterior”, onde Eduardo tem se reunido com aliados de Donald Trump na defesa de sanções contra autoridades brasileiras.
Mensagens e articulações internacionais
As trocas de mensagens entre Bolsonaro, Eduardo e o pastor Silas Malafaia também reforçam as suspeitas. em julho, o deputado relatou que a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes estava “muito muito próxima”. duas semanas depois, o governo dos estados unidos confirmou a sanção.
Em outra ocasião, Eduardo alertou que, se uma “anistia light” fosse aprovada no congresso — beneficiando apenas executores dos atos de 8 de janeiro — o governo Trump deixaria de apoiar seu pai.
Para a PF, as conversas demonstram a tentativa de influenciar autoridades estrangeiras a adotar medidas que pudessem beneficiar Jair Bolsonaro em processos criminais no brasil.
Documento confidencial e atuação de advogado estrangeiro
Outro ponto do relatório é a relação entre Bolsonaro e o advogado Martin de Luca, representante da Rumble e da Trump Media & Technology Group em uma ação contra Alexandre de Moraes na justiça americana. o ex-presidente recebeu dele orientações e até uma petição apresentada em tribunal nos Estados Unidos.
Na sede do PL, os investigadores encontraram ainda um documento intitulado “Privileged & Confidential Attorney Work Product Draft”, com perguntas direcionadas a Bolsonaro sobre reforma judicial, equilíbrio de poderes e sua estratégia política para 2026. para a PF, trata-se de uma “entrevista conduzida no interesse de grupos estrangeiros”, com coleta de informações sensíveis sobre o cenário político brasileiro.
Acusações de submissão a interesses externos
O relatório conclui que Jair Bolsonaro agiu de forma “subordinada a interesses de agentes estrangeiros”, em alinhamento contrário ao interesse nacional e visando coagir o Supremo Tribunal Federal (STF). os investigadores identificaram “fortes indícios de repasse de dados estratégicos em troca de apoio internacional”.
Eduardo Bolsonaro rebate acusações
Em nota, Eduardo Bolsonaro negou qualquer tentativa de interferência em processos no Brasil. ele afirmou que sua atuação nos Estados Unidos teve como objetivo “restabelecer as liberdades individuais no país” e classificou o indiciamento como “absolutamente delirante”.
“É lamentável e vergonhoso ver a Polícia Federal tratar como crime o vazamento de conversas privadas, absolutamente normais, entre pai e filho e seus aliados. o objetivo é evidente: Não se trata de justiça, mas de provocar desgaste político”, escreveu.
Segundo o deputado, viver em solo americano o coloca sob a proteção da legislação local. “Se meu crime for lutar contra a ditadura brasileira, declaro-me culpado de antemão”, concluiu.