Em conversa de quase uma hora, presidentes do Brasil e da França trataram de comércio internacional, acordo Mercosul-União Europeia, guerra na Ucrânia e a realização da COP30 em Belém
Críticas às tarifas norte-americanas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou nesta quarta-feira (20) por telefone com o presidente francês Emmanuel Macron. Durante a ligação, que durou cerca de uma hora, Lula voltou a condenar as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil e destacou as medidas adotadas por seu governo para proteger trabalhadores e empresas nacionais.
Segundo nota oficial do Palácio do Planalto, o chefe do Executivo brasileiro também informou Macron sobre o recurso apresentado à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas norte-americanas, classificadas como “injustificadas”. O tema foi abordado no contexto da investigação aberta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, com base na seção 301 da Lei de Comércio de 1974.
O comunicado reforça que, embora não reconheça a legitimidade de mecanismos unilaterais utilizados por Washington, Lula relatou os esclarecimentos encaminhados ao governo norte-americano.
Mercosul-União Europeia e novas frentes de negociação
Durante a conversa, Lula e Macron reafirmaram o compromisso de concluir o diálogo em torno do acordo Mercosul-União Europeia ainda neste semestre, período em que o Brasil ocupa a presidência temporária do bloco sul-americano.
O presidente brasileiro sublinhou que a ampliação de parcerias comerciais é prioridade de sua gestão. Como exemplo, citou a assinatura do tratado entre Mercosul e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio) e o avanço nas negociações com países asiáticos, como Japão, Vietnã e Indonésia.
Ucrânia e COP30 em pauta
Os líderes também trocaram impressões sobre os esforços internacionais para um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Outro ponto central da agenda foi a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Macron manifestou apoio à manutenção do evento em Belém (PA), apesar da pressão de alguns países para que a cúpula seja transferida por preocupações com a infraestrutura local.
Relação bilateral histórica
O diálogo entre Lula e Macron ocorre em um momento de fortalecimento das relações entre Brasil e França. Em 2024, ano em que se celebra o bicentenário da diplomacia entre os dois países, o presidente brasileiro e a primeira-dama, Janja, foram recebidos em Paris com honrarias. Como parte das comemorações, a Torre Eiffel foi iluminada com as cores da bandeira brasileira, gesto reservado a ocasiões especiais.
No campo econômico, a França consolidou-se como o segundo maior investidor no Brasil por meio de fusões e aquisições, com presença em setores que vão de infraestrutura a apostas esportivas.
Articulação com líderes globais
A ligação para Macron integra uma série de contatos que Lula vem mantendo com chefes de Estado desde o início das retaliações americanas contra o Brasil. Nos últimos dias, o presidente brasileiro conversou com Narendra Modi (Índia), Xi Jinping (China) e, em duas ocasiões, com Vladimir Putin (Rússia), que relatou detalhes de seu recente encontro com Trump na cúpula do Alasca.
As conversas têm se concentrado em fortalecer as relações comerciais e na construção de uma frente diplomática contra medidas unilaterais dos Estados Unidos.
