Presidente ucraniano busca garantias concretas dos EUA após declarações vagas de Trump na Casa Branca
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, enfrenta um impasse delicado nas negociações para tentar encerrar a guerra com a Rússia: até que ponto pode confiar nas promessas do presidente norte-americano, Donald Trump.
Garantias vagas e pressão por acordo
Durante reunião na Casa Branca, na segunda-feira (18), Trump afirmou que os Estados Unidos teriam um papel na segurança da Ucrânia caso Zelensky aceitasse firmar um acordo de cessar-fogo com o presidente russo, Vladimir Putin.
“Vamos garantir que funcione”, disse Trump ao lado de líderes europeus, em encontro que durou cerca de uma hora. “Se conseguirmos chegar à paz, vai funcionar. Não tenho dúvidas quanto a isso.”
Apesar do tom otimista, a fala do presidente americano levantou dúvidas sobre a consistência de seu compromisso, diante de seu histórico de posições voláteis em crises diplomáticas.
Expectativa europeia, cautela ucraniana
Líderes europeus avaliaram a reunião como positiva e enxergaram avanços para uma futura conversa direta entre Zelensky e Putin. Contudo, em Kiev, a desconfiança prevalece.
William B. Taylor Jr., ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, destacou que apenas garantias políticas não bastam: “Eles não vão concordar ou aceitar uma promessa verbal. Isso não lhes dá a segurança de que precisam.”
Após o encontro, Zelensky revelou que as discussões incluíram a possibilidade de a Ucrânia adquirir US$ 90 bilhões em armamentos americanos por meio da Europa, além da venda de drones ucranianos aos Estados Unidos. Segundo ele, um acordo formal ainda precisa ser consolidado.
Mudanças de posição de Trump
O discurso de Trump marcou uma guinada em relação a declarações anteriores, quando sustentava que a proteção da Ucrânia deveria ficar sob responsabilidade exclusiva da Europa.
Dias antes, o presidente americano havia ameaçado “consequências graves” caso Putin não aceitasse um cessar-fogo imediato, condição imposta por Kiev para qualquer negociação. No entanto, após encontro com o líder russo no Alasca, Trump passou a adotar a preferência de Moscou por um acordo de paz mais amplo, sem exigir a interrupção imediata dos combates.
No fim de semana, Trump voltou a pressionar Zelensky, sugerindo que o ucraniano poderia encerrar a guerra “quase imediatamente” caso desejasse.
Apoio europeu e incertezas
Apesar da falta de clareza sobre os mecanismos de segurança, líderes europeus elogiaram os esforços diplomáticos de Trump. “O fato de você ter dito que está disposto a participar de garantias de segurança é um grande passo. É realmente um avanço”, afirmou Mark Rutte, secretário-geral da Otan.
Especialistas, contudo, alertam para a necessidade de compromissos práticos. Para Daniel Fried, ex-embaixador dos EUA na Polônia, uma saída viável seria que países europeus garantissem presença militar em território ucraniano em caso de novo ataque, com os EUA apoiando a estratégia a partir de países vizinhos.
“Não acho que Zelensky vá se contentar apenas com uma promessa verbal”, afirmou Fried.
Histórico de recuos e contradições
A cautela de Kiev também se explica pelo padrão de mudanças bruscas do presidente norte-americano. Trump já ameaçou retaliações severas contra o Hamas caso reféns em Gaza não fossem libertados, mas depois se afastou do tema. Durante seu governo, fez ameaças tarifárias a parceiros comerciais, recuando em várias ocasiões na última hora.
Sua postura em relação a Putin também variou entre acenos de cooperação e ameaças de sanções econômicas.
Reconhecimento da complexidade
Em tom de franqueza, Trump admitiu na Casa Branca que a guerra na Ucrânia tem se mostrado mais difícil do que o esperado. “Achei que este seria um dos mais fáceis”, declarou. “Na verdade, é um dos mais difíceis e muito complexos.”
( Com The New York Times )