Encontro entre Zelenski e Trump ocorre em meio a ofensiva militar e impasse diplomático sobre futuro territorial ucraniano
Civis mortos em novo bombardeio russo
Quatro pessoas morreram e ao menos 29 ficaram feridas após uma série de ataques aéreos russos contra cidades ucranianas na madrugada desta segunda-feira (18). As ofensivas ocorreram nas regiões de Sumi, Odessa e Kharkiv, atingindo áreas residenciais e provocando destruição em larga escala.
Entre os mortos estão uma criança pequena e um adolescente de 15 anos. As imagens divulgadas mostram prédios em chamas e escombros espalhados pelas ruas. “A Rússia continua matando civis deliberadamente”, denunciou Andriyi Yermak, chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, em publicação no Telegram.
Zelenski chega aos EUA sob tensão diplomática
O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, desembarcou nos Estados Unidos para uma reunião com o presidente Donald Trump, marcada para esta manhã na Casa Branca. O encontro ocorre em um momento delicado, após Trump sinalizar apoio a um acordo de paz proposto por Moscou que exigiria concessões territoriais significativas por parte da Ucrânia.
Antes mesmo da chegada de Zelenski, Trump descartou publicamente a possibilidade de a Ucrânia recuperar a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, ou de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Proposta russa inclui cessar-fogo e promessas frágeis
Durante as negociações, o presidente russo, Vladimir Putin, ofereceu um cessar-fogo baseado nas atuais linhas de frente e prometeu, por escrito, não atacar novamente a Ucrânia ou qualquer país europeu. A proposta, no entanto, foi recebida com ceticismo, dado o histórico de violações de compromissos por parte do Kremlin.
Trump abandonou sua exigência anterior de cessar-fogo imediato e passou a defender um tratado de paz acelerado, que incluiria a cessão da região de Donbass à Rússia — inclusive áreas ainda sob controle ucraniano.
Europa tenta reagir à diplomacia americana
Líderes europeus manifestaram apoio a Zelenski e indicaram que pretendem participar da reunião na Casa Branca, buscando evitar serem excluídos das negociações. Entre os nomes confirmados estão Friedrich Merz (chanceler da Alemanha), Emmanuel Macron (presidente da França), Keir Starmer (primeiro-ministro britânico), Giorgia Meloni (primeira-ministra da Itália), Mark Rutte (secretário-geral da Otan) e Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia).
A visita de Zelenski será a primeira desde o episódio em março, quando foi repreendido por Trump e pelo vice-presidente J.D. Vance em uma reunião tensa no Salão Oval. Na ocasião, os líderes americanos acusaram o ucraniano de ingratidão e pressionaram por um acordo de paz nos termos propostos por Washington.
Garantias de segurança e resistência ucraniana
Apesar das concessões exigidas, autoridades em Kiev encontraram um ponto de apoio na proposta americana de incluir garantias de segurança para a Ucrânia em um eventual tratado de paz. A medida visa impedir futuras agressões russas e conta com o envolvimento direto dos Estados Unidos — uma mudança significativa em relação à posição anterior de Trump, que delegava essa responsabilidade exclusivamente à Europa.
A proposta foi transmitida por telefone a Zelenski no sábado, após reunião preliminar. Ainda assim, líderes europeus demonstraram cautela, lembrando que Trump tem alterado sua postura sobre a Ucrânia após conversas com Putin.
Avanço russo no leste e balanço da guerra
No campo de batalha, a Rússia iniciou as negociações em posição de vantagem. Tropas russas romperam defesas ucranianas na região de Donbass e avançaram cerca de 16 quilômetros, ameaçando flanquear posições estratégicas.
Segundo estimativas do Mediazona e da BBC News Russian, cerca de 230 mil soldados russos morreram desde o início da invasão em 2022. As perdas ucranianas são estimadas em menos da metade. Apesar disso, Moscou conseguiu recompor e expandir suas forças, beneficiando-se de uma população quatro vezes maior que a da Ucrânia.
Kiev, por sua vez, enfrenta dificuldades para manter o recrutamento e reabastecer seu exército, enquanto tenta resistir à pressão diplomática e militar por concessões territoriais. (Com Estadão)