Presidente americano recebe líder russo em cúpula de até sete horas; reunião ocorre sem participação de Zelensky e sob críticas de aliados europeus
Recepção com pompa e clima de tensão
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta sexta-feira (15) o líder russo, Vladimir Putin, com tapete vermelho na Base Aérea Elmendorf, em Anchorage, no Alasca. A aeronave de Putin pousou às 10h55 (15h55 no horário de Brasília), e os dois líderes seguiram para um encontro de cúpula que pode influenciar diretamente o rumo da guerra na Ucrânia.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, as conversas devem se estender por seis a sete horas, abordando não apenas o conflito, mas também questões delicadas das relações bilaterais e possíveis projetos econômicos conjuntos. Após um cumprimento entusiasmado e breve troca de palavras, Trump e Putin posaram para fotos e entraram juntos no veículo presidencial, apelidado de “A Besta”, sem a presença aparente de intérpretes ou assessores — um gesto incomum para líderes de potências globais.
Primeira visita de Putin ao Ocidente desde 2022
Trump partiu de Washington na manhã desta sexta-feira e publicou na rede Truth Social a mensagem “MUITO EM JOGO” pouco antes de embarcar no Air Force One. Putin, por sua vez, pisou em território ocidental pela primeira vez desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022 — conflito que já deixou dezenas de milhares de mortos e no qual Moscou mantém controle sobre cerca de 20% do território ucraniano.
A reunião no Alasca foi proposta pelo próprio presidente russo e excluiu líderes europeus e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que rejeitou ceder território sob pressão americana. “Está na hora de acabar com a guerra, e os passos necessários devem ser tomados pela Rússia. Contamos com os Estados Unidos”, afirmou Zelensky nas redes sociais, ressaltando que Moscou sofre “graves perdas” para conquistar avanços.
Trump baixa expectativas, mas mantém discurso de força
Apesar de seu perfil de negociador, Trump classificou o encontro como “uma reunião para sondar” e estimou em “25%” o risco de fracasso. “Sou presidente, ele não vai brincar comigo. Se for uma reunião ruim, terminará rápido. Se for boa, podemos alcançar a paz em breve”, declarou.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, evitou projeções e apareceu vestindo um moletom com a sigla “CCCP”, em referência à antiga União Soviética. Trump afirmou que, após a reunião, conversará com líderes europeus e com Zelensky, sugerindo a necessidade de um futuro encontro trilateral para discutir uma possível divisão territorial.
Contexto histórico e simbologia do local
A escolha do Alasca não foi por acaso. Além de exigir apenas a travessia do estreito de Bering para Putin, o território pertenceu à Rússia até o século XIX, quando foi vendido aos Estados Unidos. Moscou tem citado o episódio como exemplo de negociações territoriais legítimas.
O Kremlin informou que Trump e Putin conversariam inicialmente a sós, com intérpretes, antes de um almoço de trabalho com assessores. Enquanto isso, manifestantes em Anchorage exibiam cartazes em apoio à Ucrânia.
Divisão entre aliados e vitória para Moscou
A cúpula vai na contramão da postura de líderes europeus e do ex-presidente Joe Biden, que defendem diálogo com Moscou apenas com Kiev à mesa. Zelensky classificou o encontro como uma “vitória pessoal” para Putin.
Para Daniel Fried, ex-diplomata americano e integrante do Atlantic Council, Trump ainda pode usar instrumentos de pressão, como novas sanções e o fornecimento de armas à Ucrânia. No entanto, o analista alerta que o líder russo pode tentar desviar o foco com propostas alternativas.
