Sob gestão de Gilvane Felipe, órgão autoriza intervenções que descaracterizam patrimônio tombado e ignora bens em risco de colapso
Instituto adota postura ambígua na preservação histórica
As recentes decisões do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás têm gerado críticas contundentes sobre a coerência de sua atuação. Sob o comando de Gilvane Felipe (Cidadania), o órgão tem autorizado intervenções que desfiguram áreas tombadas, ao mesmo tempo em que impõe barreiras a projetos de restauração que seguem critérios técnicos de preservação.
A conduta do instituto tem sido comparada à lógica do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, evidenciada em reformas realizadas na própria sede do Iphan, localizada na Praça Cívica, em Goiânia. O prédio, integrante do conjunto Art Déco tombado da capital, recebeu estruturas metálicas e placas de vidro que destoam de sua arquitetura original. A intervenção, considerada um “puxadinho” por especialistas, contrasta com a rigidez aplicada pelo órgão a terceiros.
Autorização para obras do BRT gera indignação
A mesma flexibilização foi observada na liberação para a construção das estações do BRT na Praça Cívica e na Avenida Goiás. As estruturas metálicas utilizadas nas plataformas destoam do conjunto arquitetônico tombado e foram comparadas a “gaiolas” por críticos da área. A decisão do Iphan é vista como uma agressão estética e cultural ao maior acervo de edificações em estilo Art Déco do estado.
Enquanto autoriza intervenções que descaracterizam o patrimônio, o instituto tem travado projetos que buscam preservar a identidade histórica. É o caso da reconstrução do Cavalhódromo de Pirenópolis, proposta pela Secretaria da Cultura (Secult) e pela Secretaria de Infraestrutura (Seinfra). A obra foi barrada com base em uma portaria de 1995 que impõe restrições de altura e ocupação. Sem alvará, a Prefeitura não consegue licitar a obra, e a revisão da norma só está prevista para 2026.
Igreja barroca ameaça desabar sem ação do Iphan
A omissão do Iphan também se evidencia diante da deterioração da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade de Goiás. O templo barroco, que abriga o Museu de Arte Sacra, está em ruínas e corre risco de desabamento. O acervo, com mais de 900 peças, inclui obras de José Joaquim da Veiga Valle, conhecido como o “Aleijadinho goiano”.
A situação revela a falta de articulação entre o Iphan e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), responsável pela gestão do espaço desde 2009. Em maio, o governo estadual enviou ofício aos dois órgãos oferecendo apoio técnico para viabilizar a restauração, mas não houve resposta prática. A avaliação nos bastidores é de que o impasse não é técnico, mas político: falta disposição para transferir a gestão ao Estado e evitar a perda de um patrimônio de relevância nacional.
Nomeação política e suspeita de entraves à gestão estadual
A nomeação de Gilvane Felipe para o comando do Iphan-GO ocorreu por influência direta do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), de quem foi auxiliar em diversas funções. Nos bastidores, há quem veja na condução atual do instituto uma estratégia política para dificultar ações da gestão estadual de Ronaldo Caiado (União Brasil), especialmente em áreas ligadas à cultura e infraestrutura.