Sanções ao ministro do STF e tarifa de 50% sobre produtos brasileiros elevam tensão entre Washington e Brasília, segundo o New York Times
Tarifa recorde e sanção inédita
Os Estados Unidos oficializaram, nesta quarta-feira (30), a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e anunciaram sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A reportagem foi publicada pelo jornal The New York Times, que descreveu as ações como uma escalada significativa na crise diplomática entre os dois maiores países do Hemisfério Ocidental.
O decreto assinado pelo presidente Donald Trump estabelece a sobretaxa com algumas exceções, como para exportações brasileiras de aeronaves, produtos energéticos e suco de laranja. Segundo a Casa Branca, a justificativa para as sanções inclui a “perseguição, intimidação, assédio, censura e processos politicamente motivados” conduzidos pelo governo brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, o que, segundo Washington, configura “graves violações dos direitos humanos” e compromete o Estado de Direito no Brasil.
Trump mira o STF e acena para Bolsonaro
O New York Times destacou que, apesar das isenções, a medida representa a tarifa mais alta imposta por Trump neste ano, e demonstraria a disposição do governo americano de comprar uma briga direta com o Brasil.
Para o jornal, a ofensiva da Casa Branca favorece diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que responde a processos na Justiça brasileira e corre o risco de ser condenado por tentativa de golpe de Estado. “As medidas dos EUA representam uma grande vitória para Bolsonaro”, afirma a reportagem.
O jornal lembra ainda que Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente, tem atuado nos bastidores em Washington pressionando por retaliações contra Moraes e outros ministros do STF, sob o argumento de que o Judiciário brasileiro persegue injustamente lideranças conservadoras.
De acordo com a publicação, Jair Bolsonaro chegou a sugerir que uma eventual imunidade para ele e seus aliados abriria caminho para uma reaproximação econômica entre Brasil e Estados Unidos. O texto menciona também a articulação de aliados do ex-presidente em torno de um projeto de anistia, embora admita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) provavelmente vetaria a proposta.
Sanções contra Moraes são consideradas raras e severas
O jornal nova-iorquino chamou atenção para a gravidade da sanção aplicada contra Alexandre de Moraes, enquadrado pela Lei Global Magnitsky — instrumento legal norte-americano utilizado para punir indivíduos acusados de corrupção ou violações severas dos direitos humanos.
Segundo o Times, “as ações contra Alexandre de Moraes, um juiz da Suprema Corte brasileira, são um uso altamente incomum de algumas das mais graves sanções de direitos humanos que o governo dos EUA tem à disposição”.
A reportagem descreve Moraes como “uma das figuras mais polêmicas do Brasil” e relembra sua atuação em decisões que atingiram diretamente apoiadores de Bolsonaro, incluindo a remoção de contas em redes sociais, prisões por ameaças virtuais e ações em que teria atuado simultaneamente como juiz e promotor.
Ainda assim, o jornal ressalta que muitas dessas decisões foram referendadas pela maioria dos ministros do STF, que consideraram as medidas necessárias diante das ameaças à democracia registradas após as eleições de 2022.
Crise diplomática em escalada
Para o New York Times, as ações de Washington indicam uma ruptura explícita com o governo Lula, que vinha defendendo o diálogo como caminho para o reequilíbrio das relações com os Estados Unidos. “As duas medidas demonstraram que, enquanto as autoridades brasileiras buscavam o diálogo, a Casa Branca agravou drasticamente a crescente crise diplomática”, afirma o texto.
( Com NYT )
