Comportamento inusitado dos primatas intriga pesquisadores e mobiliza tratadores em templo sagrado na Indonésia
No coração de Bali, na Indonésia, um dos templos mais icônicos do país tornou-se palco de uma prática inusitada: macacos de cauda longa que vivem nas proximidades do Templo Uluwatu passaram a realizar furtos de itens valiosos de turistas, trocando-os por alimentos. A estratégia, observada por estudiosos e moradores locais, levanta reflexões sobre a inteligência e o comportamento social desses primatas.
Templo sagrado se torna cenário de barganhas insólitas
Erguido entre os séculos 10 e 11, o Templo Uluwatu é considerado sagrado por fiéis hindus e abriga cerca de 600 macacos de cauda longa. Com vista privilegiada para o Oceano Índico, o local não apenas atrai visitantes pela arquitetura e religiosidade, mas também pelas interações inesperadas com os animais que ali vivem.
De acordo com o The Wall Street Journal, os macacos desenvolveram uma dinâmica peculiar: subtraem objetos como celulares, carteiras e óculos dos turistas e só os devolvem mediante oferta de frutas ou outros alimentos — comportamento que, segundo pesquisadores, configura “processos de tomada de decisão econômica sem precedentes”.
Inteligência seletiva e padrão de roubo
Estudos conduzidos pela Universidade de Lethbridge, no Canadá, revelam que os primatas são capazes de distinguir itens que têm maior valor para os humanos, como dispositivos eletrônicos e óculos, ignorando objetos comuns como chapéus ou presilhas de cabelo. As análises envolveram centenas de horas de gravações que confirmam o padrão de roubo e negociação.
Ketut Ariana, tratador local conhecido como pawang, afirma que os animais chegam a subtrair entre cinco e dez smartphones por dia. “Eles sabem exatamente o que tirar. Os mais valiosos são devolvidos em troca de comida”, disse ao jornal norte-americano.
Turistas relatam frustração e surpresa com os “ladrões”
A experiência de visitar o templo pode se transformar rapidamente em um jogo de negociação com os macacos. O londrino Jonathan Hammé teve os óculos de sol roubados e relatou: “Os macacos tomaram conta do templo. Eles estão aplicando golpes”.
Já a norte-americana Taylor Utley, de 36 anos, contou que, durante sua visita ao templo, um primata levou seu celular. O resgate envolveu várias ofertas de sacos de frutas por parte dos tratadores. “Fiquei surpresa. É como uma organização criminosa de macacos”, descreveu.
Em um dos vídeos analisados pela equipe canadense, um macaco observa atentamente o tablet de um visitante. Quando o aparelho é guardado, o animal se antecipa e se aproxima de uma tigela de comida, na expectativa da troca.
Entenda a origem do comportamento estratégico
Segundo Kadek Ari Astawa, responsável pela equipe de tratadores, esse comportamento surgiu após a administração do templo proibir os turistas de alimentar os macacos diretamente. Com o fim das ofertas espontâneas, os animais passaram a associar humanos a alimentos e iniciaram uma forma de “extorsão” simbólica.
A administração tentou conter os furtos alterando horários de alimentação e oferecendo novos tipos de comida, mas as medidas não tiveram sucesso. “Eles continuam roubando”, afirmou Ariana.