Boatos sobre bloqueio do sistema ganham força na internet
Em meio à crescente tensão entre Brasil e Estados Unidos, rumores sobre novas sanções impostas por Washington se alastraram pelas redes sociais. Entre elas, destaca-se a possibilidade de bloqueio do GPS, sistema de navegação por satélite controlado pelos norte-americanos. Embora especialistas considerem o cenário pouco provável, a hipótese reacende discussões sobre soberania tecnológica e segurança nacional.
Improbabilidade técnica de um desligamento parcial
Segundo especialistas consultados, os Estados Unidos detêm o poder de controlar e restringir o sinal de GPS, mas fazê-lo exclusivamente no território brasileiro seria operacionalmente inviável. O engenheiro de sistemas Eduardo Rocha ressalta que tal ação exigiria uma reconfiguração complexa da rede global de satélites.
“Isso seria uma coisa extremamente complexa de se fazer, de desligar somente do Brasil, justamente por conta dessa comunicação entre eles [satélites], para que eles possam dar o melhor direcionamento”, afirma.
Ainda assim, caso ocorresse algum tipo de interferência, setores fundamentais da economia seriam diretamente afetados — como transporte aéreo e terrestre, logística, agronegócio, serviços bancários e telecomunicações.
Impacto econômico seria severo
O especialista em inovação Eduardo Freire destaca que a dependência do GPS se estende a diversas atividades cotidianas. Sistemas autônomos agrícolas, aplicativos de entrega urbana e operações críticas em infraestrutura dependem da precisão do posicionamento global.
“Do uso em tratores autônomos no campo até a entrega de um produto via aplicativo urbano, tudo depende do GPS para funcionar com precisão. Um apagão de sinal comprometeria não só a economia, mas também a segurança pública e os serviços essenciais”, pontua.
Brasil avalia desenvolvimento de sistema nacional
Diante do cenário de instabilidade, o Gabinete de Segurança Institucional criou um grupo técnico para estudar alternativas à dependência do GPS americano. A proposta inclui o desenvolvimento de um sistema brasileiro de geolocalização por satélite.
O comitê reúne representantes de ministérios, da Aeronáutica, de institutos federais e da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil. O objetivo é avaliar riscos e propor alternativas para reduzir a vulnerabilidade estratégica.
Para Freire, a questão ultrapassa o campo tecnológico: “A real alternativa para o Brasil é desenvolver sua própria infraestrutura ou, ao menos, integrar uma rede regional de posicionamento com autonomia. Temos base científica e capacidade tecnológica para isso, mas falta decisão política, investimento estratégico e um plano de longo prazo. GPS não é só tecnologia, é soberania.”
Entenda como funciona o sistema GPS
O Sistema de Posicionamento Global permite a localização em tempo real de qualquer dispositivo habilitado. A rede é formada por satélites que enviam sinais aos receptores — como celulares — que, ao receberem informações de múltiplos satélites, determinam a posição geográfica do usuário com alta precisão.
Atualmente, outras potências mundiais operam sistemas próprios, como a China (BeiDou), Rússia (GLONASS) e União Europeia (Galileo). O Brasil segue sem alternativa nacional ou regional, o que reforça os apelos por autonomia digital.
Tarifas e sanções: tensão cresce a poucos dias da medida
No início de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao mercado norte-americano, a partir de 1º de agosto. A medida foi apresentada como resposta a alegadas violações à liberdade de expressão por parte do governo brasileiro e à condução das investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além das tarifas, Trump revogou o visto do ministro do STF Alexandre de Moraes e de seus “aliados”, após operação da Polícia Federal que impôs restrições ao ex-mandatário. Bolsonaro está atualmente impedido de usar redes sociais, utiliza tornozeleira eletrônica e tem circulação limitada.
Com a aproximação do prazo para aplicação das novas tarifas, cresce o receio sobre os desdobramentos econômicos e diplomáticos da crise. O governo brasileiro busca alternativas via diálogo, mas não descarta o acionamento da Lei da Reciprocidade — regulamentada recentemente — medida que desagrada setores produtivos e empresariais.