Documento destaca a necessidade de resistência ao autoritarismo e defende reformas estruturais globais
Em meio à crescente crise diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de quatro outros líderes internacionais, assinou um manifesto em defesa da democracia e contra os discursos autoritários, uma ação que surge em resposta à crescente polarização política e à ameaça de regimes autocráticos em várias regiões do mundo.
O manifesto foi divulgado neste domingo, véspera da Reunião de Alto Nível “Democracia Sempre”, em Santiago, no Chile, e assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Boric (Chile), Pedro Sánchez (Espanha), Yamandú Orsi (Uruguai) e Gustavo Petro (Colômbia). O documento foi publicado no jornal Folha de S. Paulo e reflete um posicionamento unificado desses líderes frente aos desafios atuais enfrentados pelas democracias ao redor do mundo.
A urgência de uma ação global
O artigo defende que não há espaço para o imobilismo diante das ameaças ao estado democrático, reiterando a importância de enfrentar os desafios com esperança e ação coletiva. “Não cabe o imobilismo nem o medo. Defendemos a esperança”, afirmam os líderes no texto, que criticam o avanço da desinformação nas plataformas digitais, o aumento das desigualdades sociais e a erosão das instituições democráticas em diversas partes do globo. “Resolver os problemas da democracia com mais democracia, sempre”, concluem.
A assinatura do manifesto é considerada uma continuidade da iniciativa iniciada durante a Assembleia Geral da ONU em 2023, quando Brasil e Espanha deram os primeiros passos para criar uma frente internacional pela defesa da democracia. Para o Planalto, o documento reforça a imagem de Lula como um dos principais articuladores dessa frente global.
Resposta a tensões diplomáticas e a desinformação
Embora o manifesto não mencione diretamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a crítica implícita aos discursos de ódio nas plataformas digitais parece ser uma resposta indireta às recentes tensões entre os dois países. Um dos pontos centrais da disputa entre os presidentes é a relação do Brasil com as gigantes da tecnologia, as chamadas “big techs”, especialmente após a crítica de Trump à tentativa do governo brasileiro de regulamentar essas empresas.
O futuro da democracia: um compromisso coletivo
Além da crítica à desinformação, o manifesto também enfatiza a necessidade de reformas estruturais para combater a desigualdade social, além de estratégias conjuntas para o desenvolvimento sustentável, a justiça social e a proteção dos direitos humanos. O texto sublinha a relevância da sociedade civil no fortalecimento da democracia, afirmando que “defender a democracia nestes tempos difíceis não é apenas resistir e proteger, mas propor e seguir avançando. Essa é a tarefa urgente do nosso tempo”.
A Reunião de Alto Nível “Democracia Sempre”, que acontece nesta segunda-feira em Santiago, reunirá líderes globais, representantes da sociedade civil, intelectuais e organizações sociais, com o objetivo de discutir maneiras de fortalecer as democracias frente ao crescimento do autoritarismo e à crescente polarização que afeta o cenário político mundial.