Mosquitos Aedes aegypti recebem bactéria natural que bloqueia transmissão de dengue, zika e chikungunya; iniciativa será lançada em Valparaíso de Goiás e Luziânia
A Secretaria da Saúde de Goiás (SES-GO) inicia, em parceria com os municípios de Valparaíso de Goiás e Luziânia, a implantação do Método Wolbachia, estratégia biológica reconhecida internacionalmente no enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti.
Utilizado em 14 países, o método envolve a liberação dos chamados Wolbitos — mosquitos do tipo Aedes aegypti que carregam a bactéria natural Wolbachia. Essa bactéria impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam dentro do mosquito, quebrando o ciclo de transmissão.
Ao se reproduzirem, os Wolbitos passam a Wolbachia aos seus descendentes, tornando a população local de mosquitos progressivamente incapaz de transmitir essas doenças. A medida complementa os esforços já realizados pelas secretarias municipais e estaduais, como eliminação de criadouros e campanhas educativas.
Queda nos números não elimina risco
Apesar da redução expressiva nos registros de casos em relação ao ano anterior, os números ainda preocupam. Em 2025, o estado já notificou 123.218 ocorrências de dengue, com 72.331 confirmações, 53 óbitos contabilizados e 79 em análise.
Segundo Flúvia Amorim, subsecretária de Vigilância em Saúde da SES-GO, a recomendação é manter os cuidados preventivos: “A recomendação é continuar eliminando os mosquitos e os criadouros, pois não há diferença perceptível entre os dois tipos”.
Método é respaldado por estudos e organismos internacionais
A eficácia do Método Wolbachia é reconhecida por pesquisas científicas conduzidas por instituições brasileiras e internacionais. Cidades como Niterói (RJ) já adotaram a estratégia, com resultados expressivos. Segundo dados preliminares da empresa Wolbito, houve redução de até 70% nos casos de dengue na cidade fluminense.
A iniciativa é conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em cooperação com o Ministério da Saúde e operacionalizada pela Wolbito do Brasil, responsável pela maior biofábrica de Wolbitos do mundo.
Segurança, sustentabilidade e reconhecimento da OMS
Sem envolver qualquer manipulação genética, o método é considerado seguro e sustentável. A bactéria Wolbachia, presente em cerca de 60% dos insetos do planeta, passou a ser introduzida no Aedes aegypti em 2008, quando se descobriu que inibia o desenvolvimento dos vírus no organismo do mosquito.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a adoção da tecnologia, que foi incorporada às políticas públicas de saúde brasileiras.
Avaliação de impacto leva tempo, mas resultados são promissores
De acordo com Gabriel Sylvestre, gerente de implementação da Wolbito do Brasil, o prazo médio para avaliar o impacto do método é de até dois anos, embora os primeiros efeitos possam ser observados antes: “Mas, na prática, já se observam efeitos importantes na redução dos casos na estação de dengue seguinte à implantação do método”.