Lula busca estreitar relações com a nação mais populosa do mundo, enquanto desafios comerciais persistem
Em sua tentativa de ampliar os laços comerciais com a Índia, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, recebeu nesta terça-feira, em Brasília, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para uma visita de Estado. A reunião ocorre em um momento chave, com o Brasil em busca de diversificar suas parcerias comerciais além dos tradicionais mercados, como os Estados Unidos, China e Alemanha.
Potencial Inexplorado: Comércio ainda abaixo do esperado
Apesar de ambos os países integrarem o BRICS e compartilharem interesses em áreas como redução da pobreza e biocombustíveis, a Índia ocupa uma posição marginal na lista de parceiros comerciais do Brasil. O comércio bilateral, que gira em torno de US$ 12 bilhões, é muito inferior ao registrado com outras nações, como a China e os Estados Unidos. Lula, em evento recente, comentou com ironia a distância entre os dois países, mencionando a peculiaridade religiosa de Modi, um hindu devoto, que não consome carne – algo que poderia se tornar uma oportunidade para aumentar as exportações brasileiras de produtos como o queijo.
Busca por Diversificação Comercial
Com as tarifas impostas por Donald Trump afetando o comércio global, o presidente brasileiro intensificou seus esforços para ampliar os mercados além dos parceiros tradicionais. A Índia, com seus 1,4 bilhão de habitantes, representa um mercado ainda inexplorado, que, embora tenha visto um crescimento no comércio bilateral desde a formação do BRICS, tem um enorme potencial a ser desenvolvido. O Brasil, tradicionalmente focado nas exportações de petróleo e açúcar, busca agora diversificar suas vendas para o gigante asiático, com destaque para produtos como gergelim e etanol.
Setores Promissores e Oportunidades de Expansão
Uma das grandes apostas do Brasil para a expansão das exportações para a Índia é o etanol, especialmente após o país asiático decidir aumentar a mistura do produto na gasolina. Embora a Índia tenha restrições à importação do etanol, o aumento da demanda por biocombustíveis apresenta uma janela de oportunidades. De acordo com Gustavo Ribeiro, chefe de inteligência de mercado da ApexBrasil, o Brasil poderia se tornar um fornecedor alternativo, não apenas de açúcar, mas também de etanol.
Além disso, a Embraer, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, já estabeleceu uma subsidiária na Índia, com o objetivo de ampliar sua presença nos setores de defesa e aviação no país. Essa movimentação reflete o desejo do Brasil de consolidar a Índia como um parceiro estratégico em áreas como aviação e defesa.
Concorrência Global e Desafios para o Brasil
O Brasil também enfrenta concorrência, especialmente na área de etanol. O governo Modi tem pressionado por um acordo comercial com os Estados Unidos para evitar tarifas, enquanto o país americano também busca expandir seu acesso ao mercado indiano. Para o Brasil, essa competição exige uma estratégia cuidadosa para consolidar sua posição.
O Papel do BRICS e as Ambições Globais
Após o encontro, Lula passará a presidência rotativa do BRICS para Modi, reforçando a importância do bloco não apenas para os interesses econômicos, mas também para as ambições globais de ambos os países. A busca pela inclusão permanente no Conselho de Segurança da ONU foi reafirmada durante o encontro e promete ser uma prioridade para a Índia em 2026.
Um Futuro Promissor, mas Desafiador
Apesar de os laços comerciais entre Brasil e Índia ainda estarem aquém do potencial, o momento é propício para consolidar novas parcerias estratégicas. O comércio bilateral tem mostrado sinais de crescimento e pode representar uma oportunidade significativa para o Brasil diversificar suas exportações e fortalecer sua posição no cenário global. No entanto, o caminho a seguir dependerá de uma estratégia inteligente que leve em consideração as peculiaridades do mercado indiano e os desafios impostos pela concorrência global.