Novo partido visa enfraquecer a estrutura tradicional do Congresso e oferecer uma alternativa ao sistema político vigente
Após romper publicamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e deixar de assessorá-lo na Casa Branca, o magnata e CEO da Tesla e SpaceX, Elon Musk, anunciou neste sábado (5/07) a criação de um novo partido político. Intitulado “America Party” (ou “Partido da América”), a iniciativa pretende desafiar as estruturas políticas tradicionais e oferecer aos cidadãos uma alternativa ao sistema bipartidário que domina a política norte-americana há mais de um século.
Em uma postagem na rede social X, que pertence ao próprio Musk, o bilionário expressou suas frustrações com o cenário político atual: “Quando se trata de levar nosso país à falência com desperdício e corrupção, nós vivemos em um sistema unipartidário, e não numa democracia. Hoje, o Partido da América é formado para te devolver sua liberdade”, escreveu.
Ruptura com Trump e divergências fiscais
O anúncio surge pouco depois de Musk ter sido um crítico feroz do megapacote fiscal aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, que propõe cortes significativos nas áreas sociais e ambientais, além de aumentar os gastos com defesa e controle de migração. Estima-se que a medida irá aumentar a dívida pública americana em US$ 3,3 trilhões (cerca de R$ 17,8 bilhões) nos próximos dez anos, conforme apontado pelo Escritório de Orçamento do Congresso (CBO).
Musk, que anteriormente havia investido centenas de milhões de dólares para apoiar a candidatura de Trump nas eleições de 2024, não poupou críticas ao pacote fiscal e prometeu uma resposta política. “A criação do Partido da América é uma resposta ao apoio dado pelos republicanos a essas políticas”, declarou. O próprio Trump, em resposta, sugeriu que as críticas de Musk poderiam estar ligadas à perda de subsídios federais para a Tesla, o que intensificou o racha entre os dois.
Oposição ao bipartidarismo: Musk não será candidato
Apesar de lançar um novo partido, Musk tem deixado claro que não tem interesse em se candidatar à presidência dos Estados Unidos. Em vez disso, sua estratégia parece focar em influenciar o Congresso, especialmente na Câmara e no Senado, utilizando sua recém-criada legenda como uma força que possa desestabilizar o equilíbrio de poder atual. “A ideia é focar em dois ou três assentos no Senado e em oito ou dez distritos da Câmara”, explicou Musk. O objetivo seria conseguir votos cruciais para a aprovação de projetos de lei polêmicos.
A força do dinheiro nas campanhas políticas
Musk tem à sua disposição uma considerável fortuna que poderia financiar essa ambiciosa tentativa de alterar a dinâmica política do país. Em 2024, os gastos de campanhas políticas nos EUA ultrapassaram a marca de US$ 16 bilhões (aproximadamente R$ 86,7 bilhões), e Musk se destacou como um dos maiores doadores, investindo US$ 291 milhões (R$ 1,58 bilhão) em candidatos republicanos.
No entanto, como demonstrado em sua recente tentativa de influenciar uma eleição na Suprema Corte de Wisconsin, o dinheiro não é sempre suficiente para garantir a vitória. Embora Musk tenha distribuído cheques milionários aos eleitores, sua candidata não foi escolhida, derrotada por Susan Crawford, apoiada por democratas.
O desafio ao bipartidarismo: histórico e dificuldades
A criação do “Partido da América” representa uma tentativa de quebrar a hegemonia dos dois partidos principais dos Estados Unidos. Contudo, Musk não é o primeiro a tentar desafiar o sistema bipartidário. Em 1912, o ex-presidente Theodore Roosevelt fundou o Partido Progressista após romper com os republicanos e obteve 27% dos votos e 88 cadeiras no colégio eleitoral. Mais recentemente, em 1992, o bilionário Ross Perot também se lançou como candidato independente à presidência, conquistando 19% do voto popular, mas sem sucesso no colégio eleitoral.
Hoje, o Congresso dos Estados Unidos é quase completamente dominado pelos partidos democrata e republicano, com exceção de apenas dois senadores independentes entre os 100 assentos.
Perspectivas para o futuro político dos EUA
Embora a ideia de um partido de terceira via tenha sido discutida ao longo da história política americana, o desafio para que o “Partido da América” se torne uma alternativa viável continua enorme. Mesmo com a mobilização de recursos financeiros substanciais, Musk enfrenta um sistema político profundamente enraizado e dividido, onde o poder do bipartidarismo é difícil de ser desafiado.
( Com DW )