O ministro da Fazenda ganha apoio nas discussões sobre justiça tributária, mas enfrenta resistência e busca restabelecer relações com o Congresso
A escalada da tensão política e o novo foco em justiça tributária
Após um período de desgaste no governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atravessa um momento de reviravolta política. A crise gerada pelo impasse sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) acabou, de maneira inesperada, reunindo figuras chave da gestão em torno de uma pauta proposta por ele: a justiça tributária. Contudo, essa nova aliança não veio sem custo. Ao mesmo tempo, Haddad se viu envolvido em um crescente atrito com o Congresso, após a Câmara e o Senado derrubarem a elevação das alíquotas do IOF.
O Palácio do Planalto, consciente do desgaste, escolheu um caminho de reforço da narrativa de “justiça tributária”, focando na polarização social entre ricos e pobres. A estratégia, que inicialmente contou com a resistência do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e de outros membros do governo, como a ministra Gleisi Hoffmann, agora se consolidou. De acordo com um auxiliar próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até os mais céticos dentro do governo, como Rui Costa, aderiram à bandeira da taxação dos mais ricos, entendendo ser uma pauta essencial para o momento político.
A aproximação de aliados e as disputas internas
A aliança entre Haddad e outros membros do governo, como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, marca uma virada em relação ao período de desentendimentos. Durante 2023, os atritos entre Haddad e outros membros do governo, especialmente sobre questões como a isenção de impostos para quem ganha até R$ 5 mil, bem como a crise envolvendo o Pix, haviam enfraquecido a posição do ministro. A popularidade do governo caiu, e nomes próximos a Lula, como Rui Costa, criticaram publicamente algumas iniciativas econômicas do ministro.
A chegada de Gleisi ao núcleo central da articulação política e a recente aliança em torno da justiça tributária ilustram um novo momento. Mesmo assim, o impacto dos conflitos internos sobre a imagem de Haddad e a confiança no seu ministério ainda não pode ser ignorado.
O discurso da justiça tributária e a reação do Congresso
Apesar da nova unidade no discurso sobre a taxação dos mais ricos, o ministro da Fazenda tem enfrentado resistência por parte de parlamentares. Durante as discussões sobre o equilíbrio fiscal, Haddad afirmou que as medidas que afetam setores como fintechs e grandes fundos de investimento são voltadas apenas a “moradores da cobertura”. Essa declaração gerou desconforto no Congresso, onde a estratégia de Haddad é vista como uma tentativa de imputar aos parlamentares o rótulo de defensores dos interesses das elites.
Ainda assim, o governo parece determinado a manter o alinhamento com Haddad, especialmente após as votações de quarta-feira que reforçaram o apoio à sua agenda. A decisão de levar ao Supremo Tribunal Federal (STF) o pedido de anulação do projeto que derrubou o aumento do IOF é um exemplo da linha dura adotada pela administração. O governo vê a judicialização como uma forma de garantir que a prerrogativa de definir alíquotas de impostos, especialmente o IOF, não seja contestada por questões parlamentares, estabelecendo um precedente importante para o futuro.
A aproximação com o Congresso e o olhar para o futuro
Apesar das tensões atuais, o governo acredita que, com o tempo, as relações com o Congresso poderão ser restabelecidas. Integrantes da equipe política ressaltam que, na mesma noite em que a Câmara derrubou o decreto do IOF, três projetos de grande interesse do governo foram aprovados. Entre eles, está a autorização para a venda da produção de óleo e gás de campos do pré-sal, o que pode gerar uma receita de até R$ 20 bilhões. Além disso, foram discutidos temas relacionados ao uso de recursos do fundo social para moradias populares e políticas assistenciais.
Nas próximas semanas, o presidente Lula deve se reunir com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em uma tentativa de retomada da normalidade nas relações entre Executivo e Legislativo.