Quadros crônicos comprometem bem-estar, lazer, produtividade e vida pessoal de quem convive com a doença
A enxaqueca crônica afeta cerca de 2% da população mundial e representa um dos principais motivos de incapacidade funcional, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Marcada por dores intensas e sintomas sensoriais, a condição pode comprometer diversas esferas da vida, da rotina profissional à convivência social.
Crises frequentes, com pelo menos 15 dias de dor por mês durante três meses consecutivos, caracterizam a forma crônica da doença. Em ao menos oito desses dias, os sintomas devem apresentar os traços típicos de enxaqueca: dor latejante, geralmente unilateral, acompanhada de náuseas, vômitos e sensibilidade exacerbada à luz e ao som.
Confira, a seguir, dez perguntas e respostas essenciais sobre o tema.
O que é enxaqueca?
Trata-se de uma condição neurológica de origem hereditária, com episódios recorrentes ao longo da vida. Esses episódios incluem não apenas dor de cabeça, mas também manifestações associadas, como náuseas e sensibilidade a estímulos.
“Embora a enxaqueca não mate, ela pode maltratar muito a vida da pessoa. Uma paciente me falou que enxaqueca não mata, mas faz te sofrer tanto até você querer que ela matasse. Alguns dados recentes demonstraram que a enxaqueca é a segunda maior causa de anos vividos por incapacidade na população mundial”, relata o neurologista Marcio Nattan, do Hospital das Clínicas.
Quais são os sintomas mais frequentes?
Além da dor, geralmente pulsátil, outros sintomas acompanham a crise:
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Dificuldade de concentração
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Irritabilidade
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Rigidez na musculatura do pescoço
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Náusea, enjoo e vômito
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Hipersensibilidade a estímulos sensoriais
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Vontade repentina de consumir doces
A dor pode ser localizada ou difusa e variar em intensidade e duração, comprometendo a capacidade funcional do indivíduo.
O que provoca a enxaqueca?
A base genética é determinante, embora não exclusiva. A condição resulta da combinação de fatores hereditários com elementos ambientais e comportamentais.
“Existem fatores da vida de uma pessoa que podem contribuir para que ela tenha aumento de frequência das crises. Mas tudo isso acontece sobre uma base genética hereditária”, afirma Nattan.
Qual a diferença entre cefaleia e enxaqueca?
Cefaleia é o termo genérico para dor de cabeça e pode estar associada a diversas doenças, como sinusite, gripe ou até acidentes vasculares. A enxaqueca, por outro lado, é uma síndrome neurológica que engloba sintomas adicionais, como fotofobia, fonofobia e náusea.
Enquanto a cefaleia tensional é geralmente bilateral e moderada, a enxaqueca é mais frequentemente unilateral, intensa, e agravada por esforços físicos ou estímulos sensoriais.
A enxaqueca tem cura?
Por ser uma condição crônica de origem genética, não há cura definitiva. No entanto, é possível alcançar remissão com tratamentos adequados e mudanças de hábitos.
“A cura da enxaqueca não é uma coisa que a gente pode chamar de realista. Mas é muito importante entender que ter uma crise esporádica é diferente de que tem a doença enxaqueca com muitas crises frequentes e intensas, que impactam muito a qualidade de vida da pessoa”, pondera o neurologista.
Quais os tipos de enxaqueca?
A classificação da doença ajuda no direcionamento do tratamento:
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Crônica: mais de 15 dias de dor por mês por mais de três meses
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Com aura: precedida por alterações visuais ou sensoriais
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Vestibular: inclui vertigens e tonturas
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Hemiplégica: rara, com perda de força em um lado do corpo
Saiba mais: O que é aura na enxaqueca e como diferenciá-la de um AVC
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico e baseado no histórico do paciente, já que exames de imagem como tomografia ou ressonância geralmente não apontam anormalidades.
“Geralmente, quando o médico pede um exame por conta de suspeita de enxaqueca é porque ele está na dúvida se é enxaqueca ou se é uma outra coisa”, explica Nattan.
Quais são os tratamentos disponíveis?
O tratamento é dividido entre medidas agudas e preventivas. O controle das crises pode incluir:
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Analgésicos comuns
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Anti-inflamatórios
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Triptanas
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Toxina botulínica
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Anticorpos monoclonais anti-CGRP (como fremanezumabe e galcanezumabe)
Além dos medicamentos, a adoção de hábitos saudáveis é essencial:
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Sono regular
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Hidratação
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Prática de atividades físicas leves
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Alimentação equilibrada
Alimentos podem desencadear crises?
Pesquisas recentes indicam que, em muitos casos, a vontade de consumir certos alimentos (como chocolate) pode ser um sintoma precoce da crise, e não sua causa.
“Mas não é que a crise foi causada por chocolate. É que na verdade, o chocolate já era um sintoma que fez a pessoa procurar o chocolate nessa fase inicial da crise”, explica o neurologista.
Ainda assim, manter uma dieta rica em nutrientes e pobre em industrializados é recomendado.
A enxaqueca representa risco à saúde?
Embora não seja considerada uma doença fatal, a enxaqueca pode ter impacto severo na qualidade de vida. Casos mal controlados favorecem o uso excessivo de medicamentos, distúrbios de humor, ansiedade e insônia. (Fonte: G1)