Moeda americana cai 1,03% e fecha abaixo de R$ 5,50 pela primeira vez desde outubro; cenário internacional e expectativa por decisão do Copom influenciam mercados
Dólar recua com cenário externo mais ameno e dados positivos da China
O dólar comercial fechou em queda de 1,03% nesta segunda-feira (16), cotado a R$ 5,485, marcando o menor patamar do ano e encerrando o dia abaixo dos R$ 5,50 — um nível não registrado desde outubro de 2024. No mesmo dia, o Ibovespa avançou 1,49%, alcançando os 139.258 pontos, em um movimento de otimismo que refletiu o alívio momentâneo nas tensões do Oriente Médio e a divulgação de indicadores econômicos robustos na China.
Apesar da persistência do conflito entre Irã e Israel, a ausência de uma escalada regional mais ampla contribuiu para a redução da aversão ao risco nos mercados internacionais. Segundo Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, esse contexto favoreceu as moedas de países emergentes, como o real, que se beneficiaram da retomada parcial do apetite por ativos de risco.
Sinais de que o Irã estaria disposto a buscar uma saída diplomática também ajudaram a acalmar os ânimos dos investidores. A postura adotada por líderes globais, incluindo o presidente Donald Trump, que defendeu o diálogo entre as partes, foi interpretada como um fator de estabilidade. “O fato de os Estados Unidos não se envolverem diretamente no conflito e de Trump adotar uma posição mais conciliadora traz certo alívio para os mercados”, avaliou Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Indicadores chineses impulsionam moedas emergentes
Além do cenário geopolítico menos turbulento, os investidores repercutiram positivamente os dados econômicos divulgados pela China, principal parceiro comercial do Brasil. O país asiático reportou um crescimento de 6,4% nas vendas do varejo em maio, acima das expectativas de mercado, que apontavam para uma alta de 4,9%, segundo pesquisa do Wall Street Journal.
Esse resultado representa uma aceleração frente ao avanço de 5,1% observado em abril, reforçando a percepção de resiliência no consumo doméstico chinês. O bom desempenho contribuiu para a valorização de outras moedas emergentes frente ao dólar, como o rand sul-africano (+0,72%), o peso colombiano (+0,65%), o sol peruano (+0,42%) e o won sul-coreano (+0,31%).
Expectativas se voltam ao Copom e à política monetária dos EUA
A valorização do real ocorre às vésperas de uma nova decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve anunciar nesta semana sua próxima movimentação na taxa básica de juros (Selic). O mercado se divide entre a possibilidade de manutenção da taxa em 14,75% e um aumento de 0,25 ponto percentual.
Parte dos analistas, como os do Goldman Sachs, avalia que os dados fortes da atividade econômica brasileira e o tom conservador adotado por membros do Banco Central justificam um novo ajuste. Já outras instituições, como o Itaú, apostam na manutenção da taxa, considerando os sinais de desaceleração da inflação e o fortalecimento do real.
A economista Marianna Costa destaca que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos continua sendo um fator relevante para a atratividade do real. Esse cenário favorece operações conhecidas como carry trade, em que investidores captam recursos em países com juros baixos e os aplicam em mercados com retornos mais elevados, como o brasileiro.
Enquanto isso, o Federal Reserve também se prepara para decidir sua taxa de juros na quarta-feira (19). A expectativa majoritária é de manutenção do atual patamar, mas o mercado projeta um possível corte em setembro, o que pode alterar o fluxo de capitais globais e impactar o câmbio no Brasil.
Dólar perde força como ativo de proteção?
Embora tradicionalmente visto como um porto seguro em tempos de instabilidade, o dólar tem perdido parte desse status diante das recentes incertezas fiscais dos Estados Unidos. Na última sexta-feira (14), mesmo após os ataques de Israel ao Irã, a moeda americana oscilou pouco frente às principais divisas globais, encerrando o dia próxima à estabilidade.
Marianna Costa observa que o elevado déficit fiscal dos EUA tem gerado desconforto entre os investidores, especialmente no mercado de renda fixa. “O câmbio também reflete a política fiscal. O endividamento crescente dos Estados Unidos tem exigido maiores prêmios de risco, o que pressiona a moeda”, explica a economista.
Além disso, a postura protecionista do governo Trump, que tem adotado medidas comerciais restritivas, também contribui para o enfraquecimento do dólar. Em abril, o presidente aumentou tarifas sobre as importações de diversos países e, embora tenha suspendido os novos aumentos por 90 dias, o prazo termina em 9 de julho. A possível retomada das tarifas tem sido acompanhada com cautela pelos agentes econômicos.
( Com OGLOBO)