Ucrânia sofre maior ataque com drones desde o início da guerra e anuncia nova rodada de negociações com a Rússia
Bombardeio recorde atinge território ucraniano
A Ucrânia foi alvo, entre a noite de sábado e a madrugada deste domingo (1º), de um ataque aéreo russo de proporções inéditas desde o início da invasão, em fevereiro de 2022. Segundo a Força Aérea ucraniana, 472 drones e sete mísseis foram lançados pela Rússia, sendo 385 interceptados pelas defesas do país.
O ataque acontece às vésperas de uma nova rodada de negociações entre Kiev e Moscou, marcada para esta segunda-feira (2), em Istambul, na Turquia. Um porta-voz da Força Aérea da Ucrânia afirmou à agência AFP que se trata do maior bombardeio com drones registrado em mais de dois anos de conflito.
Durante os ataques, o comandante das forças terrestres ucranianas, general Mykhailo Drapaty, anunciou sua renúncia. A decisão ocorreu após um bombardeio russo atingir um campo de treinamento e matar ao menos 12 soldados ucranianos. Em carta divulgada publicamente, Drapaty afirmou que deixava o posto por “um senso pessoal de responsabilidade pela tragédia”.
Kiev contra-ataca: ofensiva aérea atinge bases russas
Em resposta ao ataque, as forças ucranianas afirmaram ter realizado uma operação de larga escala com drones em território russo, com o objetivo de inutilizar bombardeiros localizados longe da linha de frente. Fontes do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) relataram que aviões avaliados em até US$ 2 bilhões foram danificados em bases aéreas estratégicas.
Os alvos incluíram instalações militares em Belaya (na Sibéria), Olenya (no Ártico, próximo à Finlândia), além das regiões de Ivanovo e Diaguilevo, ambas situadas a leste de Moscou. Na base de Belaya, mais de 40 aeronaves teriam sido atingidas, com registros de incêndios. Vídeos divulgados por Kiev mostrariam aviões em chamas e colunas de fumaça densa, mas as imagens não puderam ser verificadas de forma independente pela AFP.
O governo russo reconheceu que diversas aeronaves militares “pegaram fogo” após o ataque, e informou que alguns suspeitos foram detidos. Governadores regionais também confirmaram a presença de drones inimigos e a ativação das defesas antiaéreas.
Avanço diplomático: negociações serão retomadas em Istambul
Apesar da escalada militar, Rússia e Ucrânia devem se reunir nesta segunda-feira (2), em Istambul, para uma nova rodada de negociações. A delegação ucraniana será liderada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov, enquanto a comitiva russa estará sob comando de Vladimir Medinsky.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, destacou que as principais exigências de Kiev incluem “um cessar-fogo completo e incondicional”, além da devolução de prisioneiros de guerra e de crianças ucranianas que teriam sido levadas à força pela Rússia.
Do lado russo, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, informou que Moscou já finalizou seu próprio memorando de paz, que será apresentado durante o encontro. No entanto, os termos propostos pela Rússia não foram divulgados.
Pressão internacional aumenta por solução negociada
Os esforços diplomáticos ganharam fôlego nas últimas semanas, impulsionados principalmente por pressões dos Estados Unidos e da União Europeia. Em 16 de maio, representantes dos dois países já haviam se encontrado em Istambul, no primeiro encontro direto desde o início do conflito. A reunião resultou em um acordo limitado para troca de prisioneiros, mas sem avanços significativos em direção a um cessar-fogo.
Zelensky acusou Moscou de “sabotar as negociações” ao rejeitar a recepção prévia do memorando ucraniano. Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, embora tenha sinalizado disposição para negociar, não compareceu à última rodada em Istambul, ao contrário do líder ucraniano, que se encontrou com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
Conflito se intensifica em meio a conversas de paz
O cenário desta nova rodada de negociações é marcado por uma paradoxal intensificação do conflito militar. A escalada de ataques e contra-ataques evidencia a dificuldade de avançar em um acordo duradouro, apesar dos apelos internacionais e dos esforços diplomáticos em curso.
A retomada do diálogo em Istambul pode representar uma oportunidade para reduzir as hostilidades, mas o clima de desconfiança entre as partes ainda é um obstáculo considerável à construção de um entendimento definitivo.