Ministra deixa sessão sobre BR-319 após insultos e impasse com senadores
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deixou nesta terça-feira (27) uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado após uma série de confrontos com parlamentares, em especial por causa da polêmica sobre a pavimentação da BR-319 — rodovia que conecta Porto Velho (RO) a Manaus (AM). O episódio escancarou o clima de hostilidade entre parte dos senadores e a titular da pasta ambiental.
Ofensas e embates acalorados
A saída de Marina ocorreu após novo ataque do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que, em discurso, afirmou que a mulher Marina merecia respeito, mas a ministra, não. A declaração foi recebida com indignação. Marina condicionou sua permanência na audiência a um pedido de desculpas, o que foi recusado por Plínio. Em março, o mesmo senador já havia afirmado que sentia vontade de “enforcar” a ministra, em referência à sua participação em audiência da CPI das ONGs.
A fala agressiva gerou reações imediatas. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), classificou o comentário como “infeliz” e o associou à incitação à violência. Representantes da bancada feminina, a primeira-dama Rosângela Silva (Janja) e outras autoridades também repudiaram as palavras do senador.
Durante a audiência, outro momento de tensão foi protagonizado pelo presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), que sugeriu que a ministra “se colocasse no seu lugar”. A fala foi prontamente contestada pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e outros parlamentares presentes.
BR-319 domina discussões ambientais
Um dos pontos centrais do debate foi a pavimentação da BR-319, projeto que há anos enfrenta dificuldades para obter licenciamento ambiental. O senador Omar Aziz (PSD-AM) confrontou Marina Silva sobre a demora nos avanços para viabilizar a obra. A ministra rebateu as críticas destacando os entraves legais e ambientais que impedem o andamento do projeto.
Prospecção de petróleo na Margem Equatorial também gera polêmica
Outro tema de destaque foi a criação de uma unidade de conservação marinha no litoral norte do país, região conhecida como Margem Equatorial, onde a Petrobras pretende realizar atividades de prospecção e futura exploração de petróleo. Marina esclareceu que o processo de criação da unidade ambiental remonta a 2005, afastando qualquer alegação de que a medida tenha sido tomada para inviabilizar a atuação da estatal na área.
“A unidade de conservação não incide sobre os blocos de petróleo. Não foi criada agora para atrapalhar a Margem Equatorial. Esse é um processo que vem sendo debatido há quase 20 anos”, declarou a ministra.
Marina também ressaltou o nível de exigência técnica envolvido na análise do projeto pelo Ibama. Segundo ela, o órgão tem se debruçado sobre a viabilidade da exploração em uma região considerada extremamente sensível.
Licença na Foz do Amazonas expõe racha no governo Lula
A liberação da perfuração na Foz do Amazonas tem provocado atritos internos no governo federal, envolvendo Marina Silva e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. No último dia 19, o Ibama autorizou a estrutura de resgate à fauna implementada pela empresa em Oiapoque (AP), permitindo a realização de um teste de perfuração — etapa que antecede a decisão final sobre a concessão da licença ambiental.
A situação tem sido acompanhada de perto pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que pressiona pelo avanço do projeto. O embate reflete divergências no interior do governo Lula (PT) entre prioridades ambientais e interesses na ampliação da matriz energética.
Críticas no Congresso se intensificam
Desde o início do terceiro mandato do presidente Lula, Marina Silva tem sido alvo de constantes críticas por parte de parlamentares. Em abril, senadores levaram diretamente ao chefe do Executivo uma série de queixas quanto à condução da política ambiental, durante um jantar reservado em Brasília.
O episódio desta terça-feira reforça a dificuldade de diálogo entre o Congresso e o Ministério do Meio Ambiente, especialmente diante de pautas que envolvem infraestrutura e exploração de recursos naturais em áreas ambientalmente sensíveis.