Redução para 30% nas tarifas americanas sobre produtos chineses marca trégua de 90 dias; países manterão diálogo
Trégua temporária visa reverter danos econômicos
Estados Unidos e China anunciaram um acordo provisório para reduzir tarifas recíprocas, em um gesto que visa conter os efeitos da prolongada guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta. O pacto, fechado durante encontro em Genebra no fim de semana, marca uma tentativa concreta de reaproximação após meses de escalada protecionista, instabilidade cambial e desaceleração econômica global.
A iniciativa ocorre após crescentes pressões de mercados e setores produtivos impactados pela disputa, que já comprometeu cerca de US$ 600 bilhões em comércio bilateral e afetou cadeias globais de suprimento.
Corte de tarifas sinaliza nova fase diplomática
Pelo acordo, os Estados Unidos reduzirão temporariamente de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses. A alíquota base será de 10%, com acréscimo de 20% vinculado à política de combate ao fentanil, droga sintética apontada como um dos principais vetores da crise de opioides nos EUA. Em contrapartida, a China reduzirá de 125% para 10% as taxas sobre produtos americanos e se compromete a revisar medidas não tarifárias que haviam sido impostas em retaliação.
“Ambos os países defenderam com firmeza seus interesses nacionais”, declarou o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. “Queremos um comércio equilibrado e continuaremos avançando nesse caminho.” Já o Ministério do Comércio da China classificou a medida como alinhada “aos interesses globais e à estabilidade das cadeias produtivas”.
Mercado reage positivamente a sinal de distensão
Logo após o anúncio, os mercados financeiros registraram forte reação. Os contratos futuros do índice S&P 500 subiram 2,8%, enquanto o dólar avançou 1,2% frente a outras moedas globais. O euro recuou 1%, cotado a US$ 1,11, e o ouro, ativo tradicional de proteção em tempos de crise, caiu 3,3%, refletindo uma redução no sentimento de risco entre investidores.
As declarações foram feitas em uma coletiva conjunta entre Bessent e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. Ambos elogiaram o avanço nas negociações e destacaram o entendimento mútuo de que o “desacoplamento econômico” não interessa a nenhuma das partes.
Trump recua após ofensiva tarifária e busca redefinição
As tratativas marcaram o primeiro encontro presencial entre altos representantes econômicos desde o retorno de Donald Trump à presidência, em janeiro. Durante seu novo mandato, Trump havia ampliado significativamente as tarifas sobre importações chinesas, alegando razões de segurança nacional e combate ao narcotráfico.
O governo chinês, por sua vez, retaliou impondo barreiras à exportação de elementos de terras raras — fundamentais para a indústria de tecnologia e defesa dos EUA — e elevou tarifas sobre diversos produtos americanos.
Segundo o economista-chefe da Pinpoint Asset Management, Zhiwei Zhang, a decisão superou expectativas. “Imaginei uma redução para 50%, mas o corte para 30% é um sinal claro de compromisso com a estabilidade global”, afirmou. “Isso reduz o temor de ruptura nas cadeias produtivas e deve beneficiar a recuperação econômica.”
Diálogo se amplia e inclui tema do fentanil
Além da redução de tarifas, as delegações firmaram um compromisso para discutir de forma mais ampla o combate ao fentanil, que tem sido apontado como fator crítico para a segurança pública americana. Jamieson Greer classificou a conversa sobre o tema como “muito construtiva”.
O presidente Trump declarou que o encontro representou uma “redefinição total” das relações comerciais, destacando o clima “amistoso e produtivo”. Já o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, adotou um tom mais cauteloso, mas reconheceu “progresso substancial” nas tratativas, realizadas em um espaço reservado da residência do embaixador suíço nas Nações Unidas, com vista para o Lago Genebra.
Próximos passos: nova rodada de diálogo econômico
Com o cessar-fogo tarifário de 90 dias, ambos os países se comprometeram a abrir um novo fórum de diálogo econômico, voltado à reestruturação de relações comerciais e à redução do déficit norte-americano. O sucesso do acordo dependerá da evolução política e da disposição das partes em transformar a trégua em um acordo de longo prazo.
A expectativa, segundo analistas, é que o avanço nas tratativas tenha impacto positivo sobre o comércio internacional, ao menos no curto prazo, reforçando o papel de cooperação sino-americana na estabilidade econômica global.