Presidente brasileiro reforça neutralidade e defesa do diálogo; em Kiev, líderes do Ocidente articulam pausa humanitária no conflito
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu neste sábado (10), em Moscou, sua participação na cerimônia promovida por Vladimir Putin para marcar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. A celebração, tradicional na Rússia, foi utilizada pelo Kremlin como demonstração de força em meio à guerra contra a Ucrânia.
Diante das críticas de lideranças internacionais, sobretudo da União Europeia, Lula classificou as reações como “pequenas” e argumentou que a data deveria ser motivo de celebração por parte de países como França e Alemanha. “Quem estava em guerra era a Europa. A Alemanha deveria festejar porque o nazismo foi derrotado em 1945”, afirmou.
Segundo o presidente brasileiro, a perda de 26 milhões de vidas soviéticas no conflito justifica a comemoração promovida por Moscou. “Não vejo razão para críticas à Rússia por celebrar sua vitória histórica”, pontuou.
Brasil mantém posição pela paz e nega alinhamento com ofensiva russa
Lula reiterou que a posição brasileira em relação à guerra na Ucrânia permanece inalterada. “Nós trabalhamos, queremos e torcemos para que essa guerra acabe. Mas ela só terminará se houver disposição de ambos os lados”, declarou.
O presidente reforçou ainda o envolvimento do Brasil, em parceria com a China, na tentativa de construção de uma proposta de paz para o conflito. “A posição do Brasil é sólida”, disse, minimizando o uso político da cerimônia por parte de Putin para justificar sua “operação militar especial”, como o Kremlin denomina a invasão iniciada em 2022.
Entre os cerca de 30 líderes convidados por Putin, Lula foi um dos poucos com mandato obtido por eleição direta. Questionado sobre isso, ele destacou o papel do Brasil como ator neutro na busca por soluções diplomáticas.
Críticas à guerra em Gaza e apelo direto a Putin
Durante a coletiva com jornalistas, Lula também condenou as ações militares de Israel em Gaza, classificando-as como “genocídio contra mulheres e crianças sob pretexto de combater terroristas”.
O presidente brasileiro ainda revelou um apelo pessoal que teria feito diretamente a Putin: “Liguei para ele e disse: ‘Está na hora de voltar à política. O mundo precisa de diálogo, não de guerra. Você faz falta.’”
Visita europeia a Kiev pressiona por trégua imediata
Enquanto Lula acompanhava o desfile militar na Praça Vermelha, em Moscou, líderes europeus faziam uma visita surpresa à capital ucraniana. O presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Friedrich Merz, o premiê polonês Donald Tusk e o líder britânico Keir Starmer apresentaram, ao lado do presidente Volodimir Zelenski, um plano de cessar-fogo imediato por 30 dias, com início previsto para segunda-feira (12).
A proposta foi acompanhada de uma ameaça de novas sanções econômicas contra a Rússia. “Estamos em Kiev em solidariedade à Ucrânia contra a invasão bárbara e ilegal promovida pela Rússia”, afirmaram os líderes em comunicado conjunto. A viagem, por razões de segurança, só foi divulgada após sua realização.
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, também participou da reunião com Zelenski por videoconferência, reforçando o apelo internacional por uma interrupção temporária nos combates.
Trégua russa não foi cumprida e ofensiva aérea preocupa
Apesar de Putin ter sinalizado a intenção de adotar um cessar-fogo simbólico de três dias durante as festividades, os ataques russos à Ucrânia continuaram. Serviços de inteligência dos Estados Unidos chegaram a alertar para a possibilidade de uma grande ofensiva aérea durante esse período.
Enquanto isso, Lula segue agenda internacional. Após a visita à Rússia, o presidente brasileiro viajou à China, onde será recebido em visita oficial pelo presidente Xi Jinping nos dias 12 e 13 de maio. Apesar de convites reiterados de Zelenski para visitar Kiev, inclusive com sugestão de uma escala na capital ucraniana nesta viagem, o governo brasileiro ainda não confirmou essa possibilidade.