Em 13 de abril de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi submetido a uma nova cirurgia após relatar dores decorrentes do atentado a faca sofrido em 2018. Desde então, publicações nas redes sociais — com mais de dois mil compartilhamentos — passaram a divulgar uma imagem em que Bolsonaro aparece hospitalizado, utilizando uma sonda e alimentando-se com uma colher, como suposta evidência de que a internação seria uma “farsa” com o objetivo de “obstruir a Justiça”. As mensagens também alegam o uso inadequado do equipamento hospitalar. No entanto, a fotografia é de fevereiro de 2019, durante uma internação relacionada a complicações intestinais, com posterior melhora clínica.
“A FARSA CONTINUA. ATÉ QUANDO O STF VAI ATURAR ESTA OBSTRUÇÃO À JUSTIÇA?? ESTÁ VISÍVEL QUE O HOSPITAL ESTÁ SENDO USADO COMO ESCONDERIJO… UM TIPO DE EMBAIXADA NÃO OFICIAL… SE O ELEMENTO ESTÁ SENDO ALIMENTADO POR SONDA, JAMAIS DEVERIA CONSUMIR QUALQUER TIPO DE ALIMENTAÇÃO VIA ORAL”, diz uma das legendas que circulam no Instagram e Facebook, acompanhadas da imagem de Bolsonaro internado.
O conteúdo voltou a ganhar circulação após a internação do ex-presidente em 12 de abril de 2025, em Natal (RN), em decorrência de fortes dores abdominais. Ele foi submetido a cirurgia por obstrução intestinal no dia seguinte. Desde o ataque em 2018, Bolsonaro já passou por sete procedimentos cirúrgicos. Esta, no entanto, foi a primeira cirurgia desde que se tornou réu, em 2022, por tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No dia 23 de abril de 2025, o ex-presidente publicou em suas redes sociais o momento em que recebeu uma intimação do Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto se encontrava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital em Brasília.
Contudo, a imagem que viralizou mostrando Bolsonaro utilizando uma sonda e alimentando-se por via oral não é atual.
Imagem remete a 2019
Uma busca reversa da fotografia indica que ela foi publicada originalmente em 8 de fevereiro de 2019, em reportagem do portal Poder360, intitulada “Intestino de Bolsonaro melhora e médicos retiram sonda, diz boletim”.
Segundo a matéria, a sonda nasogástrica utilizada na ocasião foi retirada após “boa aceitação da dieta líquida”. A imagem divulgada em 2019 foi compartilhada pelo próprio Bolsonaro em suas redes sociais no mesmo dia, acompanhada da legenda em que afirmava ter “voltado a comer” nas horas anteriores.
À época, Bolsonaro se recuperava de uma cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal, realizada em 28 de janeiro de 2019, procedimento que retirou a bolsa de colostomia implantada após o atentado de 2018. Em 2 de fevereiro de 2019, após apresentar episódios de náuseas e vômitos, o então presidente passou a utilizar a sonda nasogástrica para drenagem de líquidos acumulados no estômago, conforme boletim do Hospital Albert Einstein.
De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), a sonda nasogástrica tem diversas funções além da alimentação, como drenagem de líquidos, administração de medicamentos, coleta de material gástrico e realização de exames diagnósticos.
Durante o período de uso da sonda, segundo os boletins médicos de 2 a 8 de fevereiro de 2019, Bolsonaro foi alimentado exclusivamente por nutrição parenteral — método em que os nutrientes são administrados diretamente na corrente sanguínea — e, posteriormente, por dieta líquida associada.
Fixação da sonda e interpretações equivocadas
As publicações recentes também questionam a posição da sonda, sugerindo que ela estaria apenas fixada externamente, sem inserção nas narinas. Alegações semelhantes circulam desde 2019.
Uma checagem realizada pela AFP em 2020 já havia esclarecido o contexto da fotografia. Em imagem publicada por Bolsonaro em 7 de fevereiro de 2019, é possível observar claramente o tubo da sonda inserido nas narinas, fixado com fita adesiva, prática recomendada para evitar deslocamento do equipamento e garantir a eficácia do tratamento.
A recomendação técnica é reforçada em orientações profissionais de enfermagem, como as emitidas pelo Cofen.
O conteúdo viralizado atualmente também foi objeto de verificação pelas agências Reuters e Agência Lupa, que confirmaram que a imagem é antiga e que Bolsonaro não se alimentava pela sonda no momento registrado.
( AFP )