Moscou lança mais de 70 mísseis e 145 drones contra a Ucrânia; capital enfrenta cenário de devastação
Kiev foi alvo, na madrugada desta quinta-feira (24), do maior ataque russo em meses, segundo autoridades ucranianas. O bombardeio atingiu áreas residenciais da capital, deixando ao menos oito mortos e dezenas de feridos. O ataque, que mobilizou 70 mísseis e 145 drones lançados por Moscou contra diferentes pontos da Ucrânia, aprofundou o clima de tensão em meio ao prolongado conflito iniciado em fevereiro de 2022.
No distrito de Sviatyshynsky, na capital ucraniana, os estragos são visíveis. Equipes de resgate tentam abrir caminho entre os escombros de edifícios atingidos, enquanto moradores lidam com as consequências imediatas do bombardeio. Sentada em um banco próximo aos destroços, uma mulher acaricia o corpo de uma vítima, coberto por um lençol azul, estendido sobre a grama.
Entre os sobreviventes está Anna Balamutova, de 36 anos, que, ao ouvir os alarmes, correu com os filhos para um abrigo. “Se morássemos mais longe, eu fisicamente não teria conseguido fazer isso com duas crianças…. Pegá-los no meio da noite e fugir dos mísseis”, relatou. Ela, que deixou Pavlogrado, cidade do leste ucraniano, por conta da guerra, classificou sua sobrevivência como um “milagre”. “As pessoas estavam correndo ensanguentadas, algumas eram carregadas, crianças gritavam. Foi horrível. Não tenho como explicar como isso pode acontecer no mundo moderno”, disse.
As forças russas vêm realizando sucessivos ataques contra áreas civis nas últimas semanas, e o bombardeio desta quinta intensificou esse padrão. O episódio ocorreu poucas horas após declarações do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que criticou o presidente ucraniano Volodimir Zelenski por não aceitar ceder a península da Crimeia – anexada pela Rússia em 2014 – como parte de uma possível negociação de paz.
A advogada Olena Davidiuk, de 33 anos, também foi surpreendida pelas explosões. “Por que a Rússia está fazendo isso? Querem nos destruir, isso é tudo”, afirmou. Para ela, Moscou tem como objetivo não apenas atingir os soldados na linha de frente, mas também enfraquecer a população civil na retaguarda.
O Ministério da Defesa da Rússia alegou que o ataque foi direcionado a alvos militares e que os objetivos “foram alcançados”. No entanto, a destruição em zonas residenciais de Kiev reacendeu críticas à estratégia russa no conflito.
Corpos sob os escombros
Enquanto as operações de resgate seguem entre os blocos habitacionais de arquitetura soviética, os moradores se reúnem ao ar livre, em meio ao cenário de destruição. Uma mulher, ferida no rosto e coberta de sangue, segura seu cachorro e alerta os socorristas sobre a presença de pessoas presas sob os destroços. Próximo dali, um corpo permanece estendido na grama, coberto por um lençol branco, enquanto psicólogos atendem sobreviventes em estado de choque.
O presidente Volodimir Zelenski informou que mais de 80 pessoas ficaram feridas, número que pode crescer à medida que os escombros sejam retirados. Zelenski, que estava em visita oficial à África do Sul, anunciou o retorno imediato a Kiev.
Já o prefeito da capital, Vitali Klitschko, declarou luto oficial para esta sexta-feira (25), após informar que 31 pessoas foram hospitalizadas, incluindo cinco crianças.
Apesar de Kiev ter sido alvo de inúmeros ataques desde o início da guerra, episódios com alto número de mortes são considerados incomuns. A expectativa de segurança na capital, reforçada pela existência de abrigos subterrâneos, como o metrô, tem sido confrontada pela intensificação dos ataques.
“Achávamos que Kiev seria mais segura que Pavlogrado porque aqui há abrigos. Mas no fim das contas, não há como escapar da guerra. Não importa para onde você vá”, concluiu Balamutova.