Articulação evidencia dependência crescente de Lula do Senado para manter governabilidade diante de atritos com aliados
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a nomeação de Frederico de Siqueira Filho, atual presidente da Telebras, para o comando do Ministério das Comunicações. A escolha representa um gesto de confiança no presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que patrocinou a indicação após a recusa do deputado Pedro Lucas Fernandes (União-MA), líder da legenda na Câmara.
A decisão ocorre em um momento de desgaste nas relações do Palácio do Planalto com a bancada do União Brasil na Câmara dos Deputados. A aposta do governo é reforçar os laços com Alcolumbre, figura-chave no Senado, como estratégia para garantir a governabilidade em meio a um ambiente legislativo fragmentado.
Siqueira Filho e Alcolumbre estiveram no Planalto nesta quarta-feira (24) para conversar com Lula sobre os rumos da pasta. Também participaram do encontro o ex-ministro das Comunicações, Juscelino Filho — exonerado após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) — e o próprio Pedro Lucas, que recusou o cargo na véspera.
O aval presidencial foi confirmado por fontes do governo e pelo presidente do União Brasil, Antonio Rueda. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também foi informado da escolha durante audiência no Planalto.
Solução técnica após recusa política
Na reunião, outros dois nomes chegaram a ser cogitados, mas prevaleceu o perfil técnico de Frederico de Siqueira Filho, considerado por aliados como a alternativa mais viável para aplacar a crise sem inflamar ainda mais a disputa entre Câmara e Senado.
Antes do anúncio oficial, o Planalto optou por uma nova rodada de conversas com parlamentares do União, com expectativa de confirmar a nomeação ainda nesta quinta-feira, antes da viagem de Lula a Roma, onde participará do funeral do Papa Francisco.
A indicação de Frederico partiu do líder do União no Senado, Efraim Filho (PB), que destacou sua atuação à frente da Telebras: “É um sujeito que pegou uma Telebras natimorta e entrega superavitária. Não é filiado ao União Brasil, tem perfil técnico, expertise em conectividade e boa visão da iniciativa privada”, afirmou.
Resistência na Câmara e crise interna no União
A tentativa de Alcolumbre em emplacar Pedro Lucas foi vista com desconfiança por parte da bancada da Câmara, que classificou o movimento como uma “intromissão” e um “desrespeito à autonomia” da legenda no Parlamento.
“O Pedro Lucas, com essa atitude, consolidou o papel dele como líder. Tem o respeito dos colegas. O partido sai fortalecido. O Rueda tentou por três vezes falar com o Lula e não foi recebido. O Davi é uma liderança importante, virou interlocutor do governo, mas uma coisa é o Senado, outra é a Câmara”, disse o deputado Danilo Forte (União-CE).
A recusa do líder e o isolamento da Câmara provocaram incômodo no núcleo político do Planalto. Inicialmente, cogitou-se até reduzir o espaço do União na Esplanada, mas prevaleceu a avaliação de que a conjuntura exige reforço nos canais de diálogo com o Senado.
União fragmentado e rumo à oposição
Internamente, o União Brasil enfrenta fissuras. Uma ala, liderada por Antonio Rueda e ACM Neto, defende maior distanciamento do governo federal com vistas às eleições de 2026. Segundo integrantes do grupo, a insistência do Planalto em negociar cargos não tem surtido efeito, já que o que pesa hoje é a liberação de emendas parlamentares — mesmo aquelas de caráter impositivo, cujo cronograma de pagamento depende do Executivo.
O deputado Pauderney Avelino (União-AM) avalia que o episódio expôs fragilidades tanto do governo quanto da própria sigla: “A avaliação é que o partido e o governo estão desorientados”.
Outro indicativo da tendência oposicionista foi verbalizado pelo deputado Alfredo Gaspar (União-AL): “Temos parlamentares com posições bem definidas. No tocante ao governo, é clima de fim de festa, sem rumo, sem prumo”.
Levantamento publicado pelo jornal O Globo aponta queda no índice de apoio do União às pautas do governo na Câmara: de 71% no primeiro ano de mandato para 67% no segundo.
Alcolumbre amplia influência no Executivo
A nomeação de Frederico de Siqueira amplia o raio de ação de Davi Alcolumbre na estrutura federal. O senador já havia indicado Waldez Góes (PDT) ao Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, e mantém aliados próximos em órgãos estratégicos.
Entre os espaços sob influência do senador, estão:
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Sudam: o primo Aharon Alcolumbre ocupa cargo de direção;
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Codevasf: a superintendência no Amapá é comandada por Rogério Maia Cardoso, também aliado;
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Sebrae-AP: o irmão do senador, Josiel Alcolumbre, preside a instituição;
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Ebserh: outro primo, Max Alcolumbre Pinto, chefia a divisão estadual da empresa hospitalar.
Alcolumbre também busca indicar nomes para agências reguladoras, como ANP, Aneel e Anac, áreas de interesse direto do setor de infraestrutura. As articulações, no entanto, esbarram na influência do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD).
Com esse novo movimento no tabuleiro ministerial, Lula fortalece um dos principais pilares de sustentação no Congresso, ao custo de tensionar ainda mais as relações com a Câmara dos Deputados.