O Vaticano confirmou, nesta segunda-feira (21), a morte do papa Francisco, aos 88 anos.
Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta a liderar a Igreja Católica, Francisco assumiu o papado em 2013 e conduziu um dos períodos mais significativos de transformação recente da instituição, com foco na inclusão social, na defesa dos pobres e na reforma administrativa da Santa Sé.
Desde o início de seu pontificado, o argentino Jorge Mario Bergoglio demonstrou atenção às causas sociais e escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e caridade. O lema “Miserando atque eligendo” — traduzido como “Olhou-o com misericórdia e o escolheu” — refletia o tom pastoral de sua liderança.
Com discursos contundentes, Francisco posicionou-se frente a temas geopolíticos sensíveis. Condenou com veemência os conflitos armados, dirigindo críticas públicas a líderes como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu. Também cobrou ações da União Europeia diante da crise migratória, agravada a partir de 2015, reforçando o apelo por empatia e acolhimento de refugiados — tema abordado em diversos documentos oficiais do Vaticano.
Um dos episódios mais emblemáticos de seu pontificado ocorreu durante a pandemia de Covid-19. Em 2020, o papa rezou sozinho na Praça São Pedro, completamente vazia, em uma cena histórica que comoveu o mundo e se tornou símbolo de fé e esperança diante da crise sanitária global.
Internamente, promoveu importantes reformas estruturais no Vaticano, dando continuidade às iniciativas de seu antecessor, Bento XVI. Destacam-se as medidas para aumentar a transparência financeira e combater práticas ilícitas envolvendo o banco da Santa Sé, tradicionalmente associado a denúncias de lavagem de dinheiro. Francisco também reformulou a Cúria Romana, buscando maior eficiência administrativa e clareza nos processos internos.
Mesmo enfrentando problemas de saúde, como dores crônicas no quadril e episódios de desequilíbrio, Francisco nunca formalizou a intenção de renunciar. “Estou indo em frente”, afirmou, contrariando previsões feitas por ele próprio em 2015, quando indicou acreditar que seu papado seria breve.
Sua trajetória foi marcada por gestos inéditos e simbólicos. Francisco foi o primeiro papa a receber um homem trans no Vaticano e rejeitou posturas excludentes em relação à comunidade LGBTQIA+. Em uma de suas falas mais conhecidas, declarou: “Quem sou eu para julgar?”. Também defendeu que a Igreja deveria funcionar como um “hospital de campanha, não um posto alfandegário que separa os bons dos maus cristãos”.
Segundo o vaticanista Marco Politi, autor de biografias sobre líderes da Igreja, o papa argentino foi responsável por uma “revolução nos passos do Concílio Vaticano II”, ao tratar de temas considerados tabus e propor uma visão mais humana da doutrina.
Francisco estimulou uma aproximação da Igreja com fiéis em situações irregulares, marginalizados e grupos antes afastados do centro da vida católica. Seu legado, pautado pela misericórdia, coragem e disposição ao diálogo, o coloca entre os pontífices mais relevantes da história contemporânea da Igreja Católica.
