Com a chegada da Páscoa, milhões de cristãos ao redor do mundo voltam seus pensamentos para os dois pilares centrais da fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré.
A celebração, marcada pela Sexta-Feira Santa e culminando no Domingo de Páscoa — que, em 2025, será comemorado em 20 de abril —, remete ao momento em que, segundo os Evangelhos, Jesus foi crucificado e ressuscitou ao terceiro dia.
Embora o cristianismo tenha desenvolvido interpretações próprias sobre a ressurreição, o conceito de retorno à vida após a morte possui raízes mais antigas, tanto no judaísmo quanto em tradições anteriores.
Antecedentes históricos e religiosos
Jesus viveu em um contexto no qual outros mestres judeus carismáticos e operadores de milagres também circulavam pela Judeia. O que distinguia sua figura, segundo os relatos, era a crença de seus seguidores de que ele teria vencido a morte — algo interpretado como um sinal de que seria o messias prometido, destinado a libertar Israel.
Mas a ideia da ressurreição não era inédita entre os judeus do primeiro século. Relatos como o do deus egípcio Osíris, ressuscitado por sua esposa Ísis, circulavam há séculos. No entanto, as referências mais diretamente ligadas ao cristianismo emergem do próprio judaísmo antigo.
O Livro de Isaías, por exemplo, já apontava para a possibilidade de ressurreição em uma era futura, possivelmente de julgamento divino: “Seus mortos viverão; seus cadáveres se levantarão. Os que habitam no pó despertarão e gritarão de alegria”. O mesmo ocorre no Livro de Daniel, que também faz menção à ressurreição dos mortos como parte de uma visão escatológica.
No tempo de Jesus, havia diferentes seitas judaicas, entre elas os fariseus, que, conforme o historiador Flávio Josefo, acreditavam na imortalidade da alma e na possibilidade de uma reunião entre corpo e espírito após a morte. Essas ideias contribuíram para que, entre os judeus, a ressurreição de Jesus fosse vista como uma crença plausível, ainda que radical.
A ressurreição na tradição rabínica
Ao longo dos séculos, os rabinos judaicos desenvolveram o conceito de ressurreição corporal em conexão com a chegada do messias — figura que, segundo a tradição, seria um descendente do rei Davi, destinado a restaurar a glória de Israel. A expectativa era de que, após sua vinda, os mortos seriam ressuscitados.
Já por volta do século V, o Talmud — obra central do judaísmo rabínico — afirmava que quem não acreditasse na ressurreição não teria parte no Olam Haba (“Mundo Vindouro”), o estado final das almas após a morte. É relevante notar que o inferno, tal como concebido por outras religiões, não foi incorporado ao pensamento judaico dominante.
Até os dias de hoje, orações judaicas como o Amidá, recitadas diariamente, reafirmam a fé em um Deus que devolve a vida aos mortos, demonstrando a persistência dessa doutrina na tradição religiosa.
Ressurreição e separação entre judaísmo e cristianismo
Os primeiros seguidores de Jesus, todos judeus, foram fundamentais para a incorporação da crença na ressurreição à nascente fé cristã. Com o tempo, no entanto, o cristianismo levou essa concepção a um novo patamar, não apenas afirmando que Jesus havia ressuscitado, mas proclamando-o como Filho de Deus — uma divinização que, embora debatida entre estudiosos, consolidou-se nas décadas seguintes à sua morte.
Segundo os Evangelhos, Jesus teria sido preso e executado durante a celebração da Páscoa judaica, em um contexto de grande tensão social e política. As autoridades romanas temiam que sua popularidade e os distúrbios causados por sua pregação desencadeassem uma rebelião, o que levou à sua crucificação sob a acusação de sedição.
A crença na ressurreição de Jesus passou a ser o centro da fé cristã, fundamentando a ideia de que ele triunfou sobre a morte e abriu caminho para a salvação de seus seguidores. Ainda que questões como a natureza física ou espiritual de sua ressurreição continuem a ser discutidas, o consenso entre os cristãos é de que este episódio representa a vitória divina sobre a morte — o que confere à Páscoa seu significado mais profundo.
(Fonte: BBC News)