Secretário de Estado afirma que Washington pode “passar para outra coisa” se não houver avanços concretos
O governo dos Estados Unidos sinalizou, nesta sexta-feira (18), a possibilidade de abandonar os esforços diplomáticos para encerrar a guerra na Ucrânia, caso não haja progresso nas tratativas em curso. A advertência foi feita pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, após novos bombardeios russos durante a madrugada atingirem as cidades ucranianas de Kharkiv e Sumy, resultando em pelo menos duas mortes e dezenas de feridos, segundo autoridades locais.
O alerta ocorre no mesmo dia em que o Kremlin anunciou o fim da suspensão temporária dos ataques a instalações de energia na Ucrânia — medida decretada por Vladimir Putin em 18 de março e com duração de 30 dias. Com isso, a ofensiva russa deve se intensificar novamente em território ucraniano.
Na quinta-feira (17), representantes dos Estados Unidos, Europa e Ucrânia estiveram reunidos em Paris para discutir uma estratégia comum diante de Moscou. A iniciativa busca encontrar uma saída negociada para o conflito iniciado pela invasão russa em fevereiro de 2022. Ao término da reunião, Marco Rubio demonstrou impaciência com a falta de avanços. “Temos que determinar nos próximos dias se [uma trégua] é factível”, afirmou.
O diplomata americano foi mais incisivo ao indicar que Washington poderá interromper sua participação nas negociações. “Os Estados Unidos têm outras prioridades”, disse, acrescentando que o país não deseja que a guerra “se arraste por semanas e meses”.
A declaração contrasta com o discurso do presidente Donald Trump, que durante sua campanha eleitoral tem reiterado que seria capaz de pôr fim à guerra “em 24 horas”.
Reuniões sem consenso e novos ataques
Embora o encontro em Paris tenha sido descrito como “positivo” e “construtivo” por Emmanuel Macron e pela presidência ucraniana, as divergências entre os aliados permanecem. As primeiras rodadas de conversas não produziram acordos concretos, e novas reuniões estão previstas para a próxima semana, em Londres.
“O Reino Unido, a França e a Alemanha podem nos ajudar, fazer com que as coisas avancem e nos aproximar de uma resolução”, avaliou Rubio.
Em paralelo, o secretário de Estado dos EUA manteve contato telefônico com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, para reiterar a posição americana. “A paz é possível se todas as partes se comprometerem a chegar a um acordo”, disse.
Na Ucrânia, os ataques russos continuam. Em Kharkiv, ao menos 87 pessoas ficaram feridas — entre elas, seis crianças — em um bombardeio com mísseis. Em Sumy, que no último domingo registrou 35 mortes em um ataque semelhante, um novo ataque com drones matou uma pessoa e deixou outra ferida, segundo informações da administração militar local.
Impasses políticos e acordo econômico
Os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram na quinta-feira (17) um memorando de intenções com foco na cooperação para exploração de recursos naturais e minerais estratégicos no país do Leste Europeu. O documento, divulgado nesta sexta-feira por Kiev, estabelece que o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmigal, viajará a Washington na próxima semana para dar continuidade às tratativas. A expectativa é concluir o acordo até o dia 26 de abril.
As negociações, no entanto, enfrentam tensões políticas. No fim de fevereiro, o acordo quase foi formalizado, mas acabou suspenso após um confronto verbal entre o presidente Donald Trump e o presidente ucraniano Volodimir Zelensky na Casa Branca.
Crescentes tensões internacionais
Nos últimos dois meses, Trump tem adotado uma postura mais próxima do Kremlin, utilizando, inclusive, argumentos semelhantes aos usados pelo governo russo para justificar a guerra. A aproximação gerou preocupação em Kiev, que teme uma eventual retirada do apoio militar americano caso o ex-presidente volte ao poder.
Enquanto isso, a Europa ainda tenta garantir protagonismo nas negociações. Apesar de estarem ausentes das tratativas conduzidas diretamente por Washington, países como França e Alemanha discutem, sob a liderança de Macron, a possível formação de um contingente de paz europeu para atuar na Ucrânia em caso de cessar-fogo — proposta que encontra resistência entre aliados e é rejeitada por Moscou.
“A paz justa e duradoura só será possível com o consentimento e a contribuição dos europeus”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, após a reunião em Paris.