Apesar da forte reação negativa dos mercados globais e dos alertas de autoridades econômicas, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump segue firme em sua política tarifária e acusa a China de “pânico” frente às medidas comerciais americanas.
Segundo a imprensa local, as negociações para amenizar as tarifas ocorrem nos bastidores, mas Trump, em publicações na rede social Truth Social, demonstrou não estar disposto a recuar. “A China se equivocou, entrou em pânico. A única coisa que não podiam se permitir fazer”, escreveu o republicano em letras maiúsculas, antes de se dirigir ao seu clube de golfe na Flórida.
A resposta chinesa veio nesta sexta-feira (4), com o anúncio de tarifas adicionais de 34% sobre produtos norte-americanos a partir de 10 de abril. Além disso, o governo de Pequim afirmou que imporá controles sobre a exportação de minerais estratégicos, como o gadolínio, utilizado em exames de ressonância magnética, e o ítrio, essencial para a indústria eletrônica.
A retaliação chinesa ampliou a instabilidade nos mercados, que já haviam sido abalados pela nova rodada de tarifas dos Estados Unidos: aumento de 10% para a maioria dos produtos a partir deste sábado, além de 34% especificamente sobre itens chineses e 20% sobre importações da União Europeia. Muitas dessas tarifas se acumulam às já em vigor, como as de 25% sobre aço, alumínio e componentes automotivos — com exceções para México e Canadá, parceiros no acordo do T-MEC (Tratado México-Estados Unidos-Canadá).
Reação dos mercados
O impacto foi imediato. A Bolsa de Nova York registrou queda de 6%, com bilhões de dólares em perdas. Empresas fortemente dependentes de importações asiáticas, como as do setor têxtil, estão entre as mais afetadas. O cenário se repetiu na Europa — Paris recuou 4,3%; Frankfurt e Londres, 5% — e na Ásia, onde o índice Nikkei caiu 2,75% e o Topix, 3,37%. As bolsas chinesas permaneceram fechadas devido a feriado nacional.
Os preços das commodities também sentiram os efeitos da tensão comercial. O petróleo recuou mais de 7%, e o cobre seguiu trajetória semelhante.
Ainda assim, Trump mantém seu discurso confiante. “Aos muitos investidores que vêm aos Estados Unidos e investem enormes quantidades de dinheiro, minhas políticas nunca mudarão. Esse é um grande momento para enriquecer. Ficar mais rico do que nunca!!!”, publicou, também em caixa alta.
Repercussão internacional
Enquanto países como o Vietnã buscam negociar exceções, a União Europeia declarou estar comprometida com “negociações sérias” e disposta a defender seus interesses. O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, reuniu-se com autoridades norte-americanas para tratar da questão.
Trump, por sua vez, afirmou ter tido uma “discussão muito produtiva” com o presidente do Vietnã, To Lam, e revelou que o país asiático estaria disposto a eliminar tarifas sobre produtos americanos para evitar novas sanções.
Nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, alertou que o aumento das tarifas poderá pressionar a inflação, elevar o desemprego e desacelerar o crescimento da economia americana. Mesmo assim, Trump voltou a defender um corte nas taxas de juros, que considera “o momento perfeito”. Powell, no entanto, respondeu que é “muito cedo” para uma mudança na política monetária.
A secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Rebeca Grynspan, também manifestou preocupação. Segundo ela, as novas tarifas tendem a atingir com mais força as populações vulneráveis e de baixa renda.