Pesquisadores norte-americanos anunciaram a criação do menor marcapasso já desenvolvido até hoje.
Menor que um grão de arroz, o microdispositivo pode ser injetado diretamente no tórax por meio de uma seringa e é ativado por luz infravermelha. O avanço foi classificado pelos cientistas como uma “descoberta-chave” com potencial para transformar não apenas a cardiologia, mas também outras áreas da medicina.
O marcapasso, com apenas 1 milímetro de espessura e 3,5 milímetros de comprimento, foi descrito em artigo publicado na revista científica Nature. Ainda em fase experimental, o dispositivo foi testado com sucesso em camundongos, ratos, cães, porcos e tecidos cardíacos humanos. Segundo o principal autor do estudo, o engenheiro biomédico John Rogers, da Universidade Northwestern (EUA), os testes em humanos devem começar dentro de dois a três anos.
Diferente dos modelos tradicionais, que exigem a implantação cirúrgica de fios ligados ao coração, o novo dispositivo é totalmente sem fio. Ele se conecta a um adesivo colado no tórax do paciente, responsável por detectar batimentos irregulares e acionar luz infravermelha para ajustar o ritmo cardíaco. Ao fim de sua utilidade, o equipamento é dissolvido naturalmente pelo organismo, eliminando a necessidade de retirada por cirurgia.
Além da inovação no formato e funcionamento, o marcapasso é alimentado por uma célula galvânica — tecnologia que converte fluidos corporais em energia elétrica, capaz de estimular os batimentos cardíacos.
A equipe responsável pelo projeto afirma que o dispositivo poderá beneficiar cerca de 1% dos recém-nascidos com malformações cardíacas congênitas, que necessitam de marcapassos temporários no período pós-operatório. O equipamento também poderá ser usado em adultos após cirurgias cardíacas.
Atualmente, os marcapassos temporários requerem intervenção cirúrgica invasiva e apresentam riscos durante a remoção dos cabos, que podem danificar os tecidos do coração. Um caso emblemático foi o do astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, que morreu em 2012 em decorrência de complicações após esse tipo de cirurgia.
Bozhi Tian, pesquisador da Universidade de Chicago que desenvolve tecnologias semelhantes, elogiou o novo dispositivo, embora não tenha participado do estudo. “Este novo marcapasso representa um verdadeiro avanço médico”, afirmou. Para ele, o projeto inaugura uma “mudança de paradigma no estímulo temporário e na medicina bioeletrônica, abrindo possibilidades que vão muito além da cardiologia, incluindo a regeneração nervosa, a cicatrização de ferimentos e os implantes inteligentes integrados”.
Tian ainda destacou que a tecnologia “abre uma nova era de atenção médica suave, inteligente e amigável com os pacientes”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta as doenças cardiovasculares como a principal causa de mortes no mundo, com mais de 17 milhões de óbitos anuais. (Com Folhapress)