Especialistas veem risco de guerra comercial caso o Brasil opte por retaliar tarifas impostas por Trump
O governo Lula avalia medidas diante da nova tarifa de importação de 10% imposta pelos Estados Unidos a todos os produtos brasileiros, em decisão anunciada pela gestão de Donald Trump. A medida faz parte de um pacote mais amplo, que atinge também outros países, sob o argumento de promover a reindustrialização americana.
Especialistas em comércio internacional recomendam cautela. Embora o Brasil tenha respaldo legal para aplicar retaliações — inclusive no campo da propriedade intelectual, com base em lei recém-aprovada no Congresso —, a estratégia preferida é usar tais mecanismos como instrumentos de pressão para negociação, evitando uma escalada comercial.
A experiência de 2009, quando o Brasil obteve autorização da OMC para retaliar os EUA por subsídios ilegais ao algodão, serve de referência. Na ocasião, o país usou a ameaça de sanções sobre patentes e direitos autorais como ferramenta de barganha, sem efetivamente aplicar as punições.
A elevação de tarifas contra os EUA é vista como economicamente arriscada, já que boa parte das importações brasileiras se refere a insumos industriais, cuja taxação elevaria custos de produção e pressionaria a inflação.
Diante disso, o governo aposta na diplomacia e em possíveis articulações multilaterais com outros países afetados, como Canadá, México e União Europeia, para aumentar o poder de negociação.
Dados da FGV e do Banco Mundial indicam que, embora o Brasil aplique tarifas médias superiores às dos EUA, mais de 70% dos produtos americanos entram no país sem tributação, o que relativiza o argumento de desequilíbrio comercial.
Em nota oficial, o governo brasileiro lamentou a medida, destacou que os EUA mantiveram superávit na balança bilateral nos últimos dez anos (US$ 43 bilhões) e reafirmou a disposição para o diálogo, sem descartar o acionamento da OMC ou o uso dos instrumentos previstos na nova legislação.
Segundo projeções do Bradesco, caso os EUA igualem suas tarifas às brasileiras, as exportações nacionais podem cair em até US$ 2 bilhões — impacto que poderia ser mitigado com a desvalorização cambial.