Abalo sísmico de 7,7 graus derrubou prédios e afetou infraestrutura em Mianmar e Tailândia; tremores foram sentidos até a China e a Índia
Mais de 2 mil pessoas morreram em decorrência do forte terremoto que atingiu o centro de Mianmar na sexta-feira (28). A informação foi divulgada nesta segunda-feira (31) pela junta militar que governa o país, por meio da mídia estatal. Os tremores, de magnitude 7,7, causaram a destruição de edifícios, estradas, pontes e represas, agravando ainda mais a situação de uma região já fragilizada por quatro anos de guerra civil.
Equipes de resgate internacionais começaram a chegar ao país no sábado (29). Inicialmente, as autoridades haviam informado 144 mortes. No entanto, o número de vítimas subiu rapidamente. Há também cerca de 3.400 feridos, segundo dados preliminares. O número de mortos pode aumentar à medida que as equipes avançam no resgate de pessoas ainda presas sob os escombros.
O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) estima que o total de mortes em Mianmar possa ultrapassar 10 mil, e que os prejuízos superem o próprio Produto Interno Bruto (PIB) do país.
O epicentro do tremor foi localizado a 16 km a noroeste da cidade de Sagaingue, a uma profundidade de 10 km. O abalo sísmico ocorreu por volta das 12h50 do horário local.
Na capital Naypyidaw, os tremores danificaram santuários religiosos e diversas residências. Em Mandalai, segunda maior cidade do país, parte do antigo palácio real e prédios históricos desabaram, segundo relatos divulgados nas redes sociais. Em Sagaingue, uma ponte de 90 anos caiu.
Em Aungban, no interior de Mianmar, o desabamento de um hotel deixou diversas pessoas presas nos escombros, conforme relataram equipes de resgate nas mídias sociais.
Tailândia em alerta
O terremoto também foi sentido com intensidade na Tailândia, especialmente em Bangcoc, a mais de 600 km do epicentro. Edifícios comerciais e residenciais foram evacuados e o transporte ferroviário e metroviário chegou a ser suspenso temporariamente.
Pelo menos 19 pessoas morreram no país. A maioria estava em um arranha-céu em construção na capital tailandesa, que desabou. Sete pessoas conseguiram escapar; as demais ficaram presas. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram o colapso do edifício de 30 andares e o pânico dos que estavam nas proximidades.
As autoridades locais orientaram a população de Bangcoc a permanecer fora dos prédios e em áreas abertas, diante da possibilidade de novos tremores. A área metropolitana da capital tailandesa abriga mais de 17 milhões de pessoas, muitas delas em edifícios altos.
Apelo internacional
O líder da junta militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, fez um raro apelo por ajuda internacional. Em visita a um hospital na capital, afirmou que o número de mortos “provavelmente aumentará” e pediu colaboração de países e organizações estrangeiras.
“Gostaria de convidar qualquer país, qualquer organização ou qualquer pessoa em Mianmar para vir e ajudar. Obrigado”, declarou.
Índia, França e União Europeia já se ofereceram para prestar assistência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que está mobilizando seu centro logístico em Dubai para fornecer suprimentos médicos para o tratamento de lesões traumáticas. China e Rússia, principais fornecedores de armamentos ao governo birmanês, foram os primeiros a oferecer ajuda.
Na Tailândia, a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra declarou estado de emergência em Bangcoc e determinou a inspeção de todos os edifícios da cidade.
Fragilidade estrutural e conflito armado
A tragédia ocorre em um momento de extrema vulnerabilidade para Mianmar. Desde o golpe militar de 2021, o país vive uma guerra civil, com milícias e forças pró-democracia enfrentando o governo militar. A infraestrutura e o sistema de saúde estão colapsados, dificultando ainda mais a resposta ao desastre.
De acordo com estimativas da ONU, cerca de 20 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária no país, e 3 milhões foram deslocadas pelos conflitos.
Apesar do terremoto, há relatos de que os militares continuam bombardeando áreas controladas por rebeldes, segundo fontes ouvidas pela agência Associated Press.
O governo declarou estado de emergência em seis regiões fortemente afetadas pelo tremor, que a OMS classificou como uma “ameaça muito grande à vida e à saúde”.
Em Naypyidaw, centenas de feridos foram levados a um hospital cujo setor de emergência também foi danificado. Um funcionário descreveu a cena como uma “área de vítimas em massa”, com médicos atendendo pacientes do lado de fora.
Mianmar está localizada em uma zona de alta atividade tectônica, na região de pressão entre as placas do subcontinente indiano e da Eurásia. O terremoto de sexta-feira está entre os mais fortes registrados nas últimas décadas no país. Entre 1930 e 1956, seis tremores de magnitude superior a 7,0 ocorreram nas proximidades da Falha de Sagaing. Em 2016, um sismo de magnitude 6,8 na antiga capital Bagan causou a morte de três pessoas e destruiu templos históricos.