De acordo com o Censo do IBGE de 2010, Belém foi identificada como a capital brasileira com o maior índice de favelização.
Belém, escolhida como sede da COP30 — conferência climática da ONU prevista para novembro de 2025 —, enfrenta um cenário social desafiador. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital paraense é a cidade brasileira com o maior percentual de moradores vivendo em favelas e comunidades urbanas precárias. Segundo o levantamento mais recente, 57,17% da população — cerca de 745 mil pessoas — residem em 214 áreas com infraestrutura insuficiente.
O dado evidencia uma contradição: enquanto Belém se prepara para receber cerca de 40 mil visitantes e lideranças internacionais para discutir soluções climáticas e ambientais, enfrenta um expressivo déficit habitacional e problemas estruturais em sua zona urbana. A Prefeitura afirma estar retomando projetos habitacionais para enfrentar essa realidade. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), três programas têm sido priorizados: Morar Bem, Regulariza Belém e Sua Casa Belém (detalhes abaixo).
Crescimento desordenado e falta de infraestrutura
Entre os principais desafios estão a ausência de saneamento básico e a localização das moradias em áreas alagadiças. A maior favela da cidade é a Baixada da Estrada Nova, no bairro Jurunas, que reúne aproximadamente 15 mil domicílios. Trata-se da segunda maior comunidade precária da região Norte e da 11ª no país.
Outro exemplo é a Vila da Barca, situada no bairro Telégrafo, onde grande parte das residências são construídas sobre palafitas às margens da Baía do Guajará. O acesso a serviços essenciais como esgoto, água tratada e coleta de lixo é limitado. Segundo o IBGE, cerca de 212 mil moradores de Belém — 16% da população — são diretamente afetados pela precariedade no saneamento.
Na Vila da Barca, a Sehab informa que estão em curso obras de urbanização e que 76 novas unidades habitacionais devem ser entregues até 2026.
Belém já ocupava posição semelhante no Censo de 2010, quando 54,5% dos habitantes viviam em áreas de ocupação precária. O índice aumentou nos últimos anos, revelando a persistência de problemas estruturais e o impacto da expansão urbana desordenada.
Região Norte concentra maiores índices de favelização
Belém integra um quadro mais amplo: a região Norte reúne os municípios com os maiores percentuais de população residente em comunidades precárias. Entre os cinco primeiros colocados estão:
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Vitória do Jari (AP): 69,25%
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Ananindeua (PA): 60,17%
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Marituba (PA): 58,68%
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Belém (PA): 57,17%
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Manaus (AM): 55,81%
Em 2022, o IBGE atualizou a terminologia usada nos censos, substituindo “aglomerações subnormais” por “favelas e comunidades urbanas”, após consulta a organizações sociais. A nova denominação busca valorizar a realidade dessas áreas e promover maior visibilidade às condições de vida de seus moradores.
Projetos habitacionais e investimentos
Para enfrentar o déficit habitacional, a Sehab desenvolve ações com apoio de programas federais, como o Minha Casa, Minha Vida. Atualmente, oito empreendimentos estão em execução, com previsão de beneficiar 5.112 famílias. Entre os projetos, destacam-se os residenciais Viver Pratinha (previsto para 2026) e Viver Mosqueiro (com entrega programada para novembro deste ano).
Outros investimentos incluem:
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278 unidades já entregues no Residencial Vila da Barca;
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95 no Portal da Amazônia;
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1.008 casas finalizadas no Residencial Viver Outeiro, no distrito homônimo, beneficiando 5.040 pessoas;
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acompanhamento de 200 famílias no Residencial Quinta dos Paricás, em fase de contrato com a Caixa Econômica Federal.
Dois projetos vinculados ao novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também devem atender outras 204 famílias. De acordo com a Sehab, representantes da secretaria estiveram recentemente em Brasília para reuniões com o Ministério das Cidades, em busca de novos recursos para dar continuidade às obras e urbanizar áreas como a Vila da Barca.
A atual gestão municipal aponta os seguintes programas como prioritários:
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Morar Bem: facilita o acesso das famílias de baixa renda ao Minha Casa, Minha Vida;
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Regulariza Belém: maior projeto de regularização fundiária do município;
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Sua Casa Belém: parceria com o Governo do Pará para construção e reforma de moradias populares.
A prefeitura afirma que segue empenhada em captar investimentos para reduzir o déficit habitacional e ampliar o acesso a moradias dignas.