Em caso de impasse com os EUA, Lula cogita levar disputa à OMC ou aplicar tarifas equivalentes
Durante visita oficial ao Vietnã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (29) que não vê obstáculos para dialogar com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, caso considere necessário tratar das tarifas comerciais que devem ser implementadas na próxima semana.
“Na hora que eu sentir necessidade de conversar com o presidente Trump, eu não terei nenhum problema de ligar para ele. Na hora que ele achar que tem interesse de conversar comigo, eu espero que ele não tenha nenhum problema de ligar para mim”, disse Lula, em entrevista concedida a jornalistas ao fim da agenda oficial em Hanói.
O presidente brasileiro destacou que o governo está empenhado em buscar uma solução negociada com os Estados Unidos antes de adotar medidas de retaliação. Entre as possibilidades citadas, está a imposição de tarifas sobre produtos norte-americanos ou o acionamento da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Antes de fazer a briga da reciprocidade e de fazer a briga na Organização Mundial do Comércio, a gente quer gastar todas as palavras que estão no nosso dicionário para fazer o livre comércio com os Estados Unidos”, afirmou.
As declarações ocorrem em meio ao anúncio de um novo pacote de tarifas comerciais por parte de Trump. O republicano declarou que irá impor uma alíquota de 25% sobre todos os automóveis não fabricados em território norte-americano, medida que entra em vigor no próximo dia 3 de abril. O plano inclui ainda tarifas equivalentes para países que taxam produtos dos EUA, com vigência a partir de 2 de abril, além de sobretaxas sobre aço e alumínio, também de 25%, que passaram a valer desde 12 de março.
Embora o Brasil não exporte veículos diretamente para o mercado norte-americano, especialistas alertam que a indústria nacional pode ser afetada indiretamente, devido à interdependência da cadeia global de fornecimento de peças e componentes automotivos.
A bordo do Air Force One, Trump afirmou na sexta-feira (28) estar aberto a negociações com países afetados, mas sinalizou que não espera avanços até a data prevista para os anúncios oficiais.
Diante do cenário, Lula reforçou que o Brasil não hesitará em tomar medidas de retaliação, caso o diálogo não avance. “Nós não teremos preocupação de recorrer à OMC, ou, se não for resolvido, temos o direito de impor reciprocidade aos Estados Unidos. É simples assim. Os Estados Unidos não estão sozinhos no planeta Terra”, declarou.
Nos bastidores, no entanto, diplomatas brasileiros avaliam que a OMC está atualmente “paralisada” e sem capacidade de mediação efetiva. Isso porque os EUA não indicaram novos juízes para o órgão de apelação, o que compromete a atuação do mecanismo de resolução de controvérsias da entidade.
Segundo o presidente, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já se reuniram duas vezes com representantes dos EUA para discutir as recentes medidas tarifárias.
Lula ainda questionou o impacto das decisões de Trump sobre a economia norte-americana. “Eu sinceramente não sei o que pode acontecer na economia americana. Não sei se isso vai repercutir na inflação americana, no aumento da taxa de juros”, afirmou.
