Presença em podcast e possível ida a Brasília geram impasse entre auxiliares; expectativa é de que denúncia seja aceita por unanimidade
Na véspera do julgamento que pode transformar Jair Bolsonaro (PL) em réu por suposta liderança em uma trama golpista após as eleições de 2022, aliados do ex-presidente divergem sobre a estratégia mais adequada para enfrentar a sessão da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), marcada para esta terça-feira (25).
O impasse envolve tanto a condução da defesa quanto a agenda pública de Bolsonaro nas horas que antecedem a deliberação da Corte. Um dos principais pontos de discordância diz respeito à participação do ex-presidente em uma entrevista nesta segunda-feira (24), em São Paulo, no podcast Inteligência LTDA, ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O plano inicial prevê que Bolsonaro retorne a Brasília na noite desta segunda ou nos primeiros voos da manhã de terça, a fim de acompanhar o julgamento na residência do deputado federal Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição no Congresso.
Contudo, assessores próximos e integrantes da equipe jurídica têm discutido a possibilidade de alterar a programação. Parte do grupo avalia que a presença no podcast — com duração estimada em mais de duas horas — não favorece Bolsonaro. Para esses aliados, a exposição nesse momento serviria mais à imagem de Tarcísio, considerado possível presidenciável em 2026, caso se mantenha a inelegibilidade do ex-presidente.
Esse grupo defende que Bolsonaro deveria focar na preparação de pronunciamentos e entrevistas a serem realizados após o julgamento, cuja conclusão pode se estender até quarta-feira (26).
Já entre os que apoiam a agenda conjunta, a avaliação é de que o ex-presidente reforçaria sua musculatura política ao lado de Tarcísio, governador do estado mais populoso do país e expoente da oposição ao governo Lula (PT). Ambos, no entanto, negam tratar de sucessão presidencial neste momento.
A defesa de Bolsonaro no STF será conduzida pelo criminalista Celso Vilardi. Inicialmente, o advogado recomendou que o ex-presidente não comparecesse à Corte, mas, diante da pressão do entorno político, passou a sinalizar que não se opõe à presença de Bolsonaro, caso esta seja a decisão do cliente.
Aliados se dividem também quanto à forma como Bolsonaro deve se manifestar após o julgamento. Parte defende que ele fale em frente ao Supremo, gesto que teria mais impacto simbólico. Outra ala prefere uma declaração em local controlado, cercado de apoiadores, como a casa de um aliado político.
Nos bastidores, o entorno do ex-presidente considera como certa a aceitação da denúncia por unanimidade. A Primeira Turma do STF é composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
Embora a defesa concentre esforços em aspectos processuais — como a nulidade de provas e da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid —, integrantes da base bolsonarista avaliam que, em sua fala pública, o ex-presidente deverá destacar o caráter político do julgamento. A estratégia inclui reforçar os embates anteriores com o ministro Alexandre de Moraes e apontar a proximidade de Zanin e Dino com o governo petista.
Há também preocupação em evitar, nesse discurso, ataques diretos ao STF, especialmente em meio à repercussão de casos como o da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos. Ela foi denunciada por tentativa de golpe de Estado e por pichar a estátua “A Justiça”, na sede do tribunal, podendo ser condenada a até 14 anos de prisão.
Além de Bolsonaro, também são acusados nesta etapa o general Braga Netto, os ex-ministros Anderson Torres (Justiça), general Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou 34 pessoas no total. Nesta fase, o STF avaliará apenas se há base jurídica para a abertura de ação penal contra Bolsonaro e os primeiros acusados. O julgamento do mérito ocorrerá em momento posterior.
