Violência contra Mulheres
Entre as agressões mais frequentes estão insultos verbais e violência física, como tapas, socos e empurrões.
Uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha revela que 37,5% das mulheres com 16 anos ou mais no Brasil foram vítimas de algum tipo de violência no período de um ano. Isso representa aproximadamente 21,4 milhões de brasileiras.
Os dados fazem parte da 5ª edição do estudo “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres”, publicado nesta segunda-feira (10). O levantamento, realizado a cada dois anos, busca compreender a violência de gênero para além dos registros policiais. Foram entrevistadas 793 mulheres em 126 cidades entre os dias 10 e 14 de fevereiro.
Crescimento preocupante
O estudo também aponta um aumento significativo na quantidade de mulheres que relataram ter sido vítimas de violência. Em 2023, esse percentual era de 28,9%. Samira Bueno, diretora executiva do Fórum de Segurança Pública, explica que, embora as causas exatas do crescimento não possam ser determinadas, algumas hipóteses são levantadas.
“Está nessa tendência de crescimento desde o fim da pandemia”, afirma. Segundo Samira, estudos internacionais indicam que o período pós-pandemia pode ter ampliado o controle exercido por parceiros dentro de relações abusivas, gerando novas formas de violência. Outro fator mencionado é o avanço de discursos de ódio contra mulheres, especialmente em plataformas online. “Houve, por exemplo, a multiplicação (na internet) de canais ‘red pill’ que propagam misoginia, machismo e fazem apologia à violência contra a mulher”, acrescenta.
Diferentes formas de agressão
A média de tipos de violência vivenciadas pelas mulheres no último ano foi de 3,2, ou seja, cada vítima relatou mais de três formas distintas de agressão. O abuso verbal foi o mais comum, citado por 31,4% das entrevistadas. Em seguida, aparecem as agressões físicas, como tapas, socos, empurrões e chutes (16,9%). Outros tipos frequentes de violência incluem ameaças (16,1%) e perseguição (stalking), também relatada por 16,1% das mulheres.
Os dados revelam ainda que a violência atinge mulheres de diferentes idades, mas com maior incidência entre aquelas de 25 a 34 anos (43,6%), seguidas pelas faixas etárias de 35 a 44 anos (39,5%) e de 45 a 59 anos (38,2%).
Ameaça digital: vídeos e fotos íntimas vazados
Um dado inédito da pesquisa indica que cerca de 1,6 milhão de mulheres tiveram imagens ou vídeos íntimos divulgados sem consentimento nos últimos 12 meses. O fenômeno, conhecido como “pornografia de vingança”, expõe as vítimas a situações de humilhação pública, danos psicológicos e problemas como a perda de emprego ou rompimento de relações familiares.
A questão surpreendeu os pesquisadores. “É um número muito mais elevado do que a gente imaginava, e com uma prevalência muito maior entre mulheres jovens”, destaca Samira Bueno.
Embora a divulgação não autorizada de conteúdo íntimo seja criminalizada pelo Artigo 218-C do Código Penal, com pena de reclusão de 2 a 5 anos, a dificuldade de remoção dessas imagens da internet é um desafio. Samira defende a capacitação de agentes de segurança para combater esse tipo de crime e alerta para a importância da educação digital. “É essencial abordar o tema com jovens, tanto em casa quanto nas escolas, para evitar que se exponham e fiquem vulneráveis.”
Violência presenciada por conhecidos
O levantamento também revelou que, em 86,7% dos casos de agressão, havia testemunhas conhecidas da vítima. Em 47,3% das ocorrências, amigos ou conhecidos estavam presentes, enquanto 27% das agressões ocorreram diante dos filhos da mulher. Apenas 7,7% dos episódios foram presenciados por estranhos.
“Este dado chama a atenção não apenas por indicar que a esmagadora maioria dos casos contou com testemunhas, mas também porque as pessoas no entorno sabem que essa mulher está sofrendo violência. Muitas vezes, enquanto sociedade, ainda somos coniventes”, ressalta Samira Bueno.
A pesquisa reitera a necessidade de ampliar políticas de prevenção, fortalecer a proteção às vítimas e combater discursos que legitimam violências de gênero, tanto no ambiente físico quanto no digital.