Chega de uísque americano
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor novas tarifas ao Canadá gerou forte reação entre os canadenses, que manifestam indignação e preparam medidas de retaliação comercial.
Segundo pesquisa do Angus Reid Institute, 55% da população do país declarou sentir raiva em relação às ações do governo americano, enquanto 37% afirmaram se sentir traídos. O levantamento, realizado entre 27 de fevereiro e 3 de março, entrevistou 2.005 pessoas e revelou que apenas 17% dos canadenses têm uma visão favorável sobre Trump, ao passo que 79% desaprovam sua conduta.
A tensão comercial tem impulsionado um movimento de patriotismo econômico no Canadá. Diante das sanções americanas, muitos cidadãos estão alterando hábitos de consumo, substituindo produtos de origem estadunidense por alternativas nacionais ou de outros países.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, também se posicionou firmemente contra as medidas tarifárias impostas por Trump. “Os canadenses são razoáveis e educados, mas não recuaremos em uma luta. Não quando nosso país e o bem-estar de todos nele estão em jogo”, declarou o premiê nesta semana.
Campanha por produtos canadenses
O boicote a produtos americanos já é uma realidade em diversas partes do país. Restaurantes e comerciantes locais estão priorizando ingredientes e mercadorias de produção nacional. O chef Graham Palmateer, proprietário da Gram’s Pizza em Toronto, divulgou em seu Instagram que substituiu os tomates importados dos EUA por variedades cultivadas na província de Ontário. “São só ingredientes de Ontário!”, comemorou ao anunciar o novo cardápio. Ele afirmou ainda estar em processo de eliminar completamente os insumos americanos de seu restaurante.
A campanha de incentivo ao consumo de produtos canadenses se estende ao setor de bebidas. Em uma loja de Vancouver, garrafas de Bourbon do Kentucky foram retiradas das prateleiras e substituídas por opções locais. No espaço antes reservado ao “whiskey americano”, uma placa incentiva os clientes: “Compre canadense em vez disso”.
O levantamento do Angus Reid Institute aponta que quatro em cada cinco canadenses já optam por produtos nacionais como resposta às tarifas americanas. A pesquisa indica que 78% dos entrevistados afirmaram ter adotado ou estarem dispostos a adotar essa mudança de consumo.
Apesar da mobilização, especialistas alertam que a substituição de produtos americanos pode ser desafiadora. As economias do Canadá e dos Estados Unidos estão fortemente interligadas desde a implementação do acordo de livre comércio no final da década de 1980.
Escalada e recuo
A crise teve início após Trump anunciar a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos importados do México e do Canadá, alegando que ambos os países deveriam reforçar a segurança em suas fronteiras. Mesmo após medidas adotadas por esses governos, o republicano manteve as restrições comerciais.
Em resposta, Trudeau anunciou retaliação e impôs tarifas de 25% sobre importações americanas no valor de 30 bilhões de dólares canadenses. O premiê garantiu que essas medidas permanecerão em vigor enquanto as sanções dos Estados Unidos estiverem ativas.
No entanto, após pressões do setor industrial e do agronegócio americano, Trump recuou parcialmente. Ontem, a Casa Branca anunciou a suspensão temporária das tarifas por um mês, abrindo espaço para novas negociações e excluindo, por ora, os produtos que fazem parte do Acordo EUA-México-Canadá. (Fonte: UOL/Folhapress)
