A China declarou estar preparada para enfrentar “qualquer tipo de guerra” contra os Estados Unidos, em resposta às recentes tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump. A afirmação foi feita nesta terça-feira (4) pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, durante uma conferência de imprensa.
A declaração, considerada uma das mais incisivas desde o início do governo Trump em janeiro, também foi compartilhada na quarta-feira (5) pela embaixada chinesa nos EUA por meio da plataforma X, ampliando a escalada nas relações entre as duas maiores economias do mundo.
“Se a guerra é o que os EUA querem, seja uma guerra tarifária, uma guerra comercial ou qualquer outro tipo de guerra, estamos prontos para lutar até o fim”, afirmou Jian.
A tensão se intensificou após Trump anunciar na terça-feira (4) um aumento significativo nas tarifas de importação de produtos chineses, elevando-as de 10% para 20%. A medida impacta aproximadamente US$ 1,4 trilhão (cerca de R$ 8,12 trilhões) em mercadorias, incluindo itens do México e do Canadá, conforme dados da Tax Foundation.
Em resposta, a China denunciou as tarifas como uma tentativa de pressão econômica e acusou os EUA de utilizar a crise do fentanil como justificativa para as novas barreiras comerciais. “Intimidação não nos assusta. Pressão, coerção ou ameaças não são a maneira certa de lidar com a China”, reforçou Jian.
Em retaliação, Pequim anunciou a imposição de tarifas de 10% a 15% sobre produtos agrícolas norte-americanos, justificando a medida como essencial para “proteger seus direitos e interesses”.
O acirramento da disputa ocorre em um momento crucial para a China, que realiza o Congresso Nacional do Povo em Pequim. Durante o evento, nesta quarta-feira (5), o premiê Li Qiang anunciou um aumento de 7,2% no orçamento de defesa para 2025, totalizando US$ 245 bilhões. Apesar do crescimento dos gastos militares, o orçamento chinês ainda está distante dos níveis de investimento dos EUA no setor.
“Mudanças não vistas em um século estão ocorrendo em um ritmo mais rápido”, afirmou Li, ressaltando a resiliência da economia chinesa diante dos desafios externos. Entretanto, analistas apontam que os investimentos militares do país podem estar subestimados.
Apesar da retórica assertiva, a China também busca projetar uma imagem de estabilidade global. Li Qiang destacou que o país permanecerá aberto a investimentos estrangeiros e implementará medidas para impulsionar setores afetados, como o consumo interno, o mercado imobiliário e o desemprego.
Ao mesmo tempo, Pequim tenta explorar a insatisfação de aliados dos EUA, como México e Canadá, que também serão afetados pelas novas tarifas, adotando um tom cauteloso para não comprometer relações estratégicas.
Nos Estados Unidos, Trump defendeu sua política tarifária em discurso ao Congresso na terça-feira, argumentando que “outros países usam tarifas contra nós há décadas, e agora é a nossa vez”. A medida, que inclui tarifas sobre produtos agrícolas importados do Japão e da Europa a partir de 2 de abril, pode resultar no aumento do custo de alimentos e veículos, conforme alertam especialistas.