A obra, que ligará as cidades de Guarujá e Santos, no litoral paulista, tem previsão de ser entregue até 2028, um ano após o centenário do primeiro projeto de ligação viária entre os dois municípios.
Nesta quinta-feira, 27 de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciaram o lançamento do edital para a construção do primeiro túnel submerso do Brasil.
O projeto
O túnel, que terá um investimento estimado em R$ 6 bilhões, será financiado por uma combinação de recursos públicos e privados, com R$ 2,7 bilhões provenientes do governo federal, R$ 2,7 bilhões do governo paulista e R$ 600 milhões de financiamento privado. Esse esforço conjunto é fruto de uma parceria entre líderes políticos de diferentes espectros ideológicos. “Quando você tem vontade política, consegue fazer as coisas acontecerem. Eu e Tarcísio fizemos um bem bolado, um acordo entre os dois governos”, afirmou Lula no evento. O governador Tarcísio de Freitas complementou: “As diferenças têm que ser deixadas de lado para que a gente chegue num consenso e possa atender a população”.
A decisão de investir na obra foi justificada pelas necessidades econômicas da região. O Porto de Santos é responsável por movimentar 30% de toda a carga comercial brasileira, conforme dados do presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini. Apenas em março de 2023, o porto movimentou 15,3 milhões de toneladas de carga.
Santos é a 14ª cidade mais populosa de São Paulo, conforme o Censo Demográfico de 2022, e a 13ª maior em arrecadação de Imposto sobre Serviços (ISS) no país. Essa grande atividade econômica provoca um intenso fluxo de pessoas entre Santos e os municípios vizinhos, incluindo Guarujá, que é o quarto mais populoso da Baixada Santista. O tráfego entre as duas cidades atualmente é feito por balsas, que enfrentam longas filas, especialmente nos horários de pico, ou por um trajeto de 43 quilômetros via rodovia Cônego Domênico Rangoni (SP-055).
Detalhes da obra
O novo túnel submerso será construído a 21 metros de profundidade, garantindo que a passagem de navios não seja interrompida. Com uma extensão total de 860 metros, dos quais 761 metros estarão submersos, a estrutura contará com três pistas para veículos, além de uma via de quatro metros de largura para pedestres e ciclistas, construída sobre uma estrutura pré-moldada, isolada da água por uma camada de areia e rochas.
Um projeto de longa data
A ideia de ligar Guarujá e Santos por um túnel submerso remonta a 1927, quando o engenheiro Enéas Marini apresentou um projeto que incluía um túnel de 900 metros de extensão e 20 metros de profundidade. Marini, que se ofereceu para financiar a construção, exigia, no entanto, a concessão do túnel por pelo menos 30 anos, o que inviabilizou a proposta.
Nas décadas seguintes, o debate sobre a melhor forma de conectar as duas cidades continuou. Em 2010, o então governador José Serra (PSDB) propôs uma ponte de 4,6 quilômetros de extensão, orçada em cerca de R$ 700 milhões, mas ela foi descartada devido à limitação de altura para a circulação de navios cargueiros. Em 2013, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) revisitou a ideia do túnel submerso, propondo uma obra com orçamento de R$ 1,89 bilhão, mas o projeto não se concretizou devido a dificuldades financeiras.
Em 2020, a concessionária Ecovias, responsável pela gestão do sistema Anchieta-Imigrantes, apresentou novamente a proposta de uma ponte, desta vez orçada em R$ 2,9 bilhões, como parte de um acordo para a extensão da concessão da rodovia. No entanto, o risco à navegação portuária impediu o avanço do projeto. Finalmente, após anos de discussões, o edital lançado neste ano concretiza a realização de um sonho centenário da região.