O presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou nesta quinta-feira (27) a exoneração da ministra da Saúde, Nísia Trindade, em um movimento que marca o início da reforma ministerial em seu governo.
O cargo será assumido por Alexandre Padilha (PT), atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais, escolhido por seu perfil político para comandar a pasta, que tem um orçamento de R$ 239,7 bilhões.
A demissão de Nísia já era esperada após semanas de desgaste. A ex-ministra deixou o cargo sob aplausos de servidores e colegas de gestão. Em nota oficial, o governo destacou o reconhecimento pelo trabalho realizado.
Reorganização na Esplanada
A substituição ocorre em meio a pressões políticas, com o Centrão reivindicando mais espaço no primeiro escalão. Lula, no entanto, manteve a Saúde sob controle do PT, argumentando que se trata de uma área estratégica.
A mudança também afeta a articulação política do governo, já que a saída de Padilha da Secretaria de Relações Institucionais abre espaço para uma nova nomeação. O nome mais cotado para assumir o posto é o do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que se reuniu com Lula na noite de terça-feira para discutir a sucessão. Caso se confirme, a “cozinha do Planalto” seguirá sob controle petista.
Redução da presença feminina no governo
Com a saída de Nísia, o número de mulheres no alto escalão do governo federal cai para nove entre os 38 ministérios. Em 2023, no início da gestão, eram 11 ministras. Nos últimos dois anos, foram feitas sete mudanças no governo, sendo três delas envolvendo mulheres.
Uma possibilidade para reverter essa redução está na Secretaria-Geral da Presidência da República, atualmente comandada por Márcio Macedo. O nome mais cotado para assumir a pasta é o da deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que recebeu elogios de Lula no último fim de semana, durante evento de aniversário da legenda.
Trajetória e desafios na Saúde
Primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde, Nísia Trindade assumiu a pasta após presidir a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Durante sua gestão, enfrentou crises como o surto de dengue e as pressões por melhorias no programa Mais Acesso a Especialistas, voltado à redução da fila por atendimento médico especializado no SUS.
A ex-ministra também lidou com o desgaste gerado pela incineração de doses vencidas da vacina contra a covid-19 e com as cobranças de Lula por uma marca mais forte do governo na área da saúde.
Ainda assim, sua gestão obteve conquistas, como a ampliação da cobertura vacinal infantil, que levou o Brasil a recuperar o status de país livre do sarampo pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Além disso, o país saiu da lista das 20 nações com mais crianças não vacinadas, segundo a Unicef e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Outro marco foi a incorporação da vacina contra a dengue no SUS, tornando o Brasil o único país a oferecer o imunizante gratuitamente. Além disso, Nísia anunciou a gratuidade de todos os medicamentos e insumos do programa Farmácia Popular, além de promover a reestruturação dos hospitais federais do Rio de Janeiro.
A saída da ministra foi oficializada horas depois de um evento sobre a produção nacional da vacina contra a dengue, onde ficou evidente o mal-estar entre ela e Lula. Durante a cerimônia, Nísia fez um discurso prolongado e emocionado, destoando de seu perfil habitual, o que gerou impaciência no presidente. Ao final, foi ovacionada.
Questionado sobre novas mudanças no ministério, Lula evitou responder. No entanto, a tendência é que a reforma na Esplanada prossiga nos próximos dias, com novas trocas em ministérios estratégicos.