Os preços de produtos essenciais como café, carne e azeite continuam a pressionar a inflação alimentar, conforme apontam os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
No acumulado de 12 meses até janeiro, o café moído registrou uma elevação de 50%, enquanto as carnes subiram 21% e o azeite, 17%. Esses avanços superam significativamente a inflação geral do período, que ficou em 4,56%.
A alta nos preços dos alimentos se apresenta como um dos principais desafios econômicos para o governo Lula neste início de ano, em meio a esforços para recuperar sua popularidade. A previsão de uma safra recorde de grãos em 2025 surge como um fator positivo, mas seria suficiente para reverter a alta desses itens?
Café: expectativa de novos aumentos
O preço do café moído vem crescendo expressivamente desde o final de 2024, quando grandes produtoras reajustaram os valores ao consumidor. Somente em janeiro, o aumento foi de 8,56% no IPCA.
A analista de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, Laleska Moda, explica que a elevação já era esperada devido à escassez de estoques em diversos países e à menor produção do Vietnã nas safras de 2023 e 2024. “Tivemos, nas últimas quatro safras, uma produção inferior ao consumo, o que reduziu os estoques globais, atingindo níveis historicamente baixos na Europa”, destaca.
No Brasil, a estiagem prejudicou a safra de 2024, reduzindo a produtividade e impactando o potencial produtivo dos cafezais. Com isso, especialistas alertam que o consumidor pode enfrentar novos aumentos ao longo dos próximos meses, acompanhando os recordes nas cotações da Bolsa de Nova York.
Carne: fatores climáticos e câmbio pesam no preço
O setor pecuário registrou um bom desempenho em 2024, com a produção de carne bovina atingindo 10,91 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No entanto, o preço ao consumidor seguiu em alta, influenciado por questões climáticas, redução do rebanho e aumento da demanda chinesa, intensificado pela valorização do dólar.
“A seca reduziu as áreas de pasto, encarecendo a alimentação do gado. Além disso, muitos pecuaristas optaram por vender fêmeas para o abate, diminuindo a oferta de bois prontos para o corte. Com o dólar alto, a exportação se torna mais lucrativa, reduzindo a oferta interna”, explica o economista Leandro Rosadas, especialista em gestão de supermercados.
Para ele, há pouca margem para redução dos preços no primeiro semestre. Caso as condições de pastagem melhorem e o dólar se desvalorize, o custo da carne pode cair no segundo semestre.
Azeite: recuperação lenta após safras ruins
O azeite acumulou alta de 17% nos últimos 12 meses, reflexo das safras reduzidas nos principais países produtores, como Espanha, Turquia, Grécia e Itália. No entanto, para 2025, a previsão é de uma produção global de 3,1 milhões de toneladas de azeitonas, um aumento de 23% em relação ao ciclo anterior.
Rafael Marchetti, diretor da Prosperato, alerta que os reflexos dessa melhora não serão imediatos. “Foram duas safras muito ruins, e agora os produtores precisarão repor estoques. Isso pode retardar uma queda significativa nos preços”, afirma. Ele destaca que uma desvalorização do dólar poderia contribuir para uma redução nos valores praticados no Brasil.
O mesmo ocorre com as azeitonas, que registraram uma alta de 11,46% no período. “A colheita na Argentina, principal exportador para o Brasil, ficou abaixo do esperado, dificultando uma redução nos preços. A variação cambial também pesa: em 2024, o dólar subiu 17%, impactando diretamente um produto 100% importado”, explica Martin Nucete Hernando, gerente de vendas do Grupo Vale Fértil.
Perspectivas para a inflação
De acordo com o Boletim Focus divulgado em 17 de fevereiro, a projeção do mercado para o IPCA ao fim de 2025 foi ajustada para 5,60%, representando a 18ª semana consecutiva de revisão para cima. Para 2026, a expectativa é de inflação a 4,35%.
O Banco Central segue perseguindo a meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Resta saber se os fatores globais e internos permitirão que os preços dos alimentos entrem em um ciclo de estabilização nos próximos meses.