Relatório confirma que avião da Azerbaijan Airlines foi atingido por míssil antes de queda no Cazaquistão
Um relatório preliminar divulgado pelo governo do Azerbaijão confirmou que o avião Embraer E-190 da Azerbaijan Airlines, que caiu no Cazaquistão no último Natal, foi atingido por um míssil antiaéreo enquanto se aproximava para pouso na Rússia. O documento detalha os danos causados por fragmentos compatíveis com a explosão de uma ogiva de armamento antiaéreo, que, em vez de atingir diretamente o alvo, detona antes do impacto, espalhando estilhaços para maximizar os danos.
Uma fonte anônima ligada à investigação afirmou à Reuters que um dos destroços recuperados pertence a um míssil do sistema russo Pantsir S-1, modelo utilizado na defesa do aeroporto de Grozni na manhã de 25 de dezembro. No entanto, essa informação não consta no documento oficial, que menciona apenas “fragmentos de metal estrangeiros” encontrados no estabilizador esquerdo e em partes do sistema hidráulico, essenciais para o controle da aeronave.
Registros de voz revelam confusão dos pilotos
A análise do gravador de voz, conduzida por peritos da Força Aérea Brasileira (FAB) com apoio da Embraer, indica que os pilotos desconheciam a real dimensão do problema. Durante a aproximação a Grozni, relataram dois impactos em um intervalo de 25 segundos. Dois minutos depois, o comandante informou aos controladores que acreditava que a aeronave havia sido atingida por pássaros, versão inicialmente sustentada pela Rússia. Contudo, especialistas apontam que colisões com aves, ainda que perigosas, não costumam causar danos estruturais tão severos.
Cinco minutos após o primeiro impacto, o piloto informou perda de controle da aeronave, desencadeando discussões entre controladores e tripulação sobre alternativas de pouso em outros aeroportos russos. Somente no oitavo minuto de emergência, a torre de Grozni passou a desviar outras aeronaves da rota, sugerindo que autoridades já tinham consciência do perigo decorrente do ataque ucraniano que ocorria na região na ocasião.
Sem condições de pouso imediato, a tripulação optou por seguir para o leste, atravessando o mar Cáspio em direção a Aktau, no Cazaquistão. O voo perdurou por 1h12min após o primeiro impacto até a tentativa frustrada de pouso.
Perda de pressão e queda
Durante o percurso, vídeos gravados por alguns dos 29 sobreviventes mostravam danos visíveis na fuselagem. O comandante relatou que passageiros estavam perdendo a consciência, indicando provável despressurização.
“Temos uma situação, o oxigênio está acabando na cabine dos passageiros, o que significa que um tanque de oxigênio explodiu ali, eu acho. Há cheiro de combustível, alguns passageiros estão perdendo a consciência, nos dê permissão para ir a uma altitude menor”, comunicou o comandante antes de realizar uma manobra para uma zona de maior pressão atmosférica.
Ao se aproximar de Aktau, os danos na aeronave ficaram evidentes. Um dos profundores, superfície responsável pelo controle de subida e descida localizada no estabilizador traseiro, estava travado, comprometendo a estabilidade do voo. O avião acabou caindo em um campo antes de alcançar o aeroporto, resultando na morte de 38 pessoas.
Repercussão diplomática
Em dezembro, o presidente azeri, Ilham Aliyev, afirmou que o E-190 foi atingido por um sistema de defesa aérea russo, declaração que levou a um raro pedido de desculpas de Vladimir Putin. No entanto, o Kremlin não reconheceu explicitamente a responsabilidade pelo incidente, limitando-se a classificá-lo como “trágico” e oferecendo suporte técnico às investigações conduzidas por Baku.
O Azerbaijão optou por enviar os gravadores de voo ao Brasil para análise, visto que a Embraer fabricou a aeronave. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) devolveu os dados apurados no início deste ano.
O relatório azeri, embora preliminar, pode servir de base para futuras recomendações de segurança emitidas por órgãos reguladores internacionais.