O Brasil enfrentou, em janeiro de 2025, o maior crescimento no número de casos de Covid-19 dos últimos dez meses.
De acordo com dados do Ministério da Saúde analisados pela plataforma SP Covid Infotracker, somente na terceira semana do mês foram registrados 23.512 casos da doença.
O avanço da Covid-19 começou nas últimas semanas epidemiológicas de 2024, em dezembro, e ganhou força ao longo de janeiro. A última alta expressiva nos registros havia ocorrido em março do ano passado. Nos primeiros 30 dias de 2025, o número de casos aumentou 68% em relação a dezembro, totalizando 72.846 infecções.
A série histórica analisada pelo SP Covid Infotracker teve início na 13ª semana epidemiológica de 2024, em março, quando o país registrava 14 mil casos. Desde então, o menor índice foi registrado entre os dias 9 e 15 de junho, com 1.102 casos.
O aumento não se restringiu às infecções. As mortes em decorrência da Covid-19 também cresceram. Na terceira e quarta semana de janeiro, foram contabilizados 310 óbitos, ante 165 registrados nas duas primeiras semanas de dezembro.
Expectativa de crescimento
Para o infectologista Max Igor Lopes, o aumento era esperado. “Nenhum vírus, de forma geral, tem a característica de se autoextinguir”, afirma. Segundo ele, o comportamento da doença segue padrões anteriores, e a tendência é que novos picos ocorram periodicamente.
Apesar do fim oficial da pandemia, declarado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o coronavírus mantém algumas características iniciais. Como outros vírus respiratórios, como o influenza e o norovírus, ele apresenta sazonalidade e tende a se disseminar com maior intensidade em determinadas épocas do ano.
Dois fatores principais explicam essa sazonalidade, segundo Lopes, que é membro da Sociedade Brasileira de Infectologia: a maior proximidade entre pessoas em certas épocas e a imunidade coletiva. “Toda vez que essa imunidade diminui, a barreira contra a circulação do vírus também enfraquece”, explica.
O pesquisador Wallace Casaca, coordenador do SP Covid Infotracker e professor da Unesp, aponta ainda que eventos como as festas de fim de ano contribuem para o aumento de casos. As aglomerações típicas desse período favorecem a transmissão do vírus.
Outro fator relevante é o surgimento de novas subvariantes. Desde 2022, quando a pandemia perdeu força e a vacinação avançou, diferentes variantes competem entre si. No momento, as três linhagens mais comuns são JN.1, AKP.3.1 e XEC.
“O natural hoje é que esse vírus continue circulando”, afirma Lopes. “Mas, atualmente, ele tem uma gravidade muito menor.”
O aumento de casos coincide com o relato frequente de sintomas gripais na população. A semelhança entre os sintomas de gripe e Covid pode dificultar o diagnóstico, levando à subnotificação.
Para Lopes, os números reforçam a necessidade de atenção. “Eles ajudam a levantar a suspeita de que a Covid pode ser a causa daquela dor de garganta ou daquela tosse que sua avó, por exemplo, está apresentando”, afirma. Muitas pessoas deixam de buscar atendimento médico ou realizar testes, o que contribui para uma menor notificação dos casos.
Casaca destaca que, além da subnotificação, ainda há um estigma relacionado à doença. “Talvez o trauma de 2020 e 2021, somado ao medo de julgamento, tenha gerado um receio massivo de admitir que estão com Covid, mesmo no cenário atual, que é muito mais controlado”, avalia.
Como se prevenir?
A vacinação continua sendo a principal ferramenta de proteção, destaca Lopes. “As pessoas abandonaram a ideia de vacinar. Inclusive, muitos idosos não entendem a importância disso”, alerta.
O Ministério da Saúde recomenda a imunização anual para pessoas a partir de cinco anos e para grupos vulneráveis. Indivíduos com 60 anos ou mais, imunocomprometidos e gestantes devem se vacinar a cada seis meses.
Outra medida essencial é o uso de máscaras em caso de sintomas respiratórios.
Para diferenciar gripe e Covid, é importante observar os sintomas e realizar testes. Enquanto a gripe costuma causar febre, fadiga, dor no corpo e espirros, a Covid se manifesta com tosse, dor de garganta, dor de cabeça e perda de olfato.